E lá vou eu, refugiar-me em mim.
Mais uma vez. Nessas horas do mais novo sopetão na cara da idiota
possibilidade. Trôpego, esse romantismo
barato, mais uma vez cambaleia. Dessa vez cai? É o que todos observam com
atenção. Nós queremos que não caia (é nossa consciência sonhadora pedindo
ratificação), mas reconhecemos que é plausível e justificável a queda, diante
do pé manco por outros tropeços. Que raiva de me permitir. O Lúdico é o que deve bastar, sob pena de machucar-se duramente. Poupe-se da queda de 20 andares: não é preciso para o
pensamento em voar. Agora se se quer muito sentir o clímax da vontade, que é justamente o momento de sua conversão em verdade, anua com a dor, que também será auge. É imbecil pensar que mais uma vez me deixei levar por essas baboseiras
poéticas. Como mulher que apanha, apanha, e não denuncia. Como Jesus com Mil
Faces. “Já” adultos, igualmente, arranjamos nossas fugas, só são elas mais
severas e degradantes. Vez que correr para o meio da cama dos “pais” já não me
era mais possível, há muito, eu rumava para meu inferninho pessoal. É meu jeito
de me recarregar contra o mundo lá fora que é cruel e não permite que se sonhe por muito tempo. Mundo muito cruel. Persisto, percebendo que me encontrar
comigo na Augusta algumas sextas-feiras e me chamar para um role pode ser
divertido. Virei uma amiga que aceita meus quaisquer convites, já que não havias
reais muitas que o fizessem. A diversão delas era outra. Eu me sugo em momentos simples que nem cócegas fazem às suas necessidades. Pelo menos isso. Ter sacado já algumas coisas, não me faz melhor que ninguém, Pelo contrário. Mais me pego eu nesses dilemas entre o ideal e o real. Algo trivial, na minha vida. De todo modo, eu preciso de pouco para sorrir. Exaltemos esse ínfimo mérito, já que ele me custa tão caro. Preferia, às vezes, afundar-me nessas credinces de que a felicidade está aí no futuro (posto que incerto e passível de quimeras) ou nas aquisições, que passam a ser descontroladas. Infelizmente, não me basta. Momentos é que são caros para mim. Gasto minha grana inteira com pessoas e muitas vezes com esta pessoa que vos fala, tão-somente. É a dose
certa de mim com a qual me faço deparar todas as noites no Astronete às
sextas-feiras aos sons de rocks clássicos e blues - que poucos sabem me fazem
mais feliz que balão de peixinho no parque – para me recompor. Virou uma necessidade. Violo-me com a podridão do homem, dia após dia e, ao fim da semana, preciso desse aconchego em mim, para não matar a esperança de amar, para não sucumbir o altruísmo. De onde eu vim, algumas
coisas rotineiramente observadas com pacificidade simplesmente não eram possíveis e outras, hoje
constantemente atropeladas, nem sequer passavam pela cabeça como dispensáveis. É
respeito, responsabilidade com quem está à sua volta. É fé. Conceitos contra os quais se jogam pedras todos os dias, da porta da minha casa para fora. Diante do risco de inverter meus conceitos, de começar a achar o errado certo, por repetição, acaricio meus princípios, que, felizmente, ainda pedem socorro. Acolho-os, depois das pedras jogadas, faço curativos e dou-lhes apoio moral, para que continuem a sua jornada. Às vezes, contudo, devo assumir que deixo passar algumas pedras que eu poderia alcançar. Em outros momentos, consigo sacar que lancei uma pedra, por vontade própria. Quantas outras vezes não percebo os erros? Havia muito o que aprender.
Fui grossa com aquela mulher e, no mesmo instante em que ela me lançou olhar denunciando meu descaso com minhas raízes, luzes se acenderam. Era a mão boba, já adaptada a esse mundo... Eu, de verdade, sequer percebera (o que não é menos culpa; é sucumbir). Pedi desculpas, mas senti ser pior. Fiquei intimidada, envergonhada mesmo. Apesar de eu não ser escrota, a falta de atenção com as necessidades alheias me deu asco. “Desculpa, não foi minha atenção” não foi bastante. Toquei-a almejando tivesse uma grande felicidade naquele dia. Senti-me protelando-me, enganando-me, tirando o meu da reta, ao levar para o mundo a necessidade de curar o seu ego que eu (e naquele momento apenas eu) ferira. Eu já estava machadiana, pois o mero pensar dar os cinquenta reais que tinha àquela mulher (que às duas da manhã vendia comida em uma balada de playboy) me pareceu exagero. Não querer o troco me pareceu uma saída menos louca. Saída bem Brás Cubas, diga-se de passagem. O ser humano é podre mesmo e eu não era diferente. Dando-me o maior tabefe no rosto, ela recusou, como se pensasse "não me compre". Golpe de mestre. Senti-me péssima. Insisti muito até que ela aceitou não com a gratidão que eu queria ver em seu rosto (estava fazendo aquilo por ela ou por mim?), mas com um "acabemos com essa encheção; se isso fará bem para o seu ego, sua patricinha de merda..." Não era o meu caso, mas ela tinha o direito e fazia sentido que assim pensasse. Pedi para a menina que também utilizava de seus serviços pagar-lhe um real a mais, pois tinha-a visto comentar que faltava dinheiro. A menina aceitou naquele mais ou menos. Não sei se faria, mas pedi que fizesse e repassasse aos demais. E a corrente do bem passou? Não sei... Esses alternativos de merda não chamam para si, em pequenos sinais, as grandes necessidades; "conscientizam-se", contudo, ao achar o máximo campanhas pelo bem social, pela arte do bem. Pergunta se levantam os seus rabos para irem fazer alguma coisa. Eu levanto o meu? Ali também tratei de consertar o meu erro, sem me desvencilhar daqueles malditos cinquenta reais, ato que, em caridade, pensei sem me mexer e que agora, depois de reflexão mundana, machuca-me o ego. Sou tão podre quanto os outros, pois me mantive imóvel, pensando que a minha ação não era nada. Joguei para o mundo uma parte, com a satisfação de que eu não devia fazer tudo. É difícil essa ideia de Jesus, tanto que você leitor deve ter pensado: "meu, era 50 reais, ela agiu certo..." 50 reais é um troco de pinga em muitos dias de balada, mas poderia lhe significar-lhe sucesso em um dia... Não sou rica, mas gastei, por tantas vezes, 50 reais para ENTRAR em uma danceteria. Agora a necessidade de ter-lhe dado aquele dinheiro era para minha felicidade pessoal ou pela dela?
Um pouco mais cedo, a menina desmaiada. Todos vendo, sem nem olhá-la nos olhos. Saí correndo atrás de ajuda: "oi, tem uma meninas ali, caída" contra "Ah, não é comigo" que ouvi em progressão geométrica. Apenas uma hora depois e quase uma vida a menos, alguém se toca, sensibiliza-se e vai até o local oferecer ajuda. Isso sem falar naqueles que foram ao local onde ela estava caída, olharam-na por obrigação moral, acharam que era encheção de mais para estragar as suas festas e voltaram para seus "altares" de ídolo único, que certamente não era Deus. No óbito, abraçam o defunto, dizendo querem tê-lo ajudado, em vida. Porra! Isso não é normal, alguém mais vê? Busquei ajuda e fui embora, crendo mais uma vez que ao mundo incumbia parte do seu socorro, que eu já fizera a minha parte. Mas se sei eu que o mundo é escroto, deixar com ele o destino daquela menina é menos culpa?
Mais tarde, findaram meu dia sugando o pouco que tinha da minha crendice em uma vida de amor. Sem dó nem piedade, brincaram não com meus sentimentos (que ainda era cedo para existirem), mas com minha fé. Isso é muito pior... Jogaram um balde de mundanices nas minhas esperanças em ligações de alma, algo muito mais complexo que se interessar por alguém. Um balde não era capaz de me fazer tremer se eu já não tivesse vindo de uma sequencia de banhos frios. Eu já estava amassada por outras chacinas. Será que temos de esperar o não dá mais dos outros? Chega desse assunto; já me reabasteci e não vou perder isso com pensamentos maus...
Por essas e outras, naquele momento, eu precisava de energia. Não queria permitir me contaminar com a tristeza de assistir o descaso em primeira fila do espetáculo. Eu busquei no Astronete encher-me de paz. Virou meu mantra. Virou minha missa. Era uma apelo ao lado bom de mim que eu não queria que morresse. Era o retirar os apedrejados da multidão. Era dizer coisas boas para mim, diante dos lamentos sabidamente difíceis de refutar. Colo... Calibrei meus pneus, dançando comigo, curtindo do meu eu. Isso me recompõem de falta de amor do mundo, a falta de amor para mim. Dei-me colo. Mais uma vez. Alguém deveria fazê-lo...
Fui grossa com aquela mulher e, no mesmo instante em que ela me lançou olhar denunciando meu descaso com minhas raízes, luzes se acenderam. Era a mão boba, já adaptada a esse mundo... Eu, de verdade, sequer percebera (o que não é menos culpa; é sucumbir). Pedi desculpas, mas senti ser pior. Fiquei intimidada, envergonhada mesmo. Apesar de eu não ser escrota, a falta de atenção com as necessidades alheias me deu asco. “Desculpa, não foi minha atenção” não foi bastante. Toquei-a almejando tivesse uma grande felicidade naquele dia. Senti-me protelando-me, enganando-me, tirando o meu da reta, ao levar para o mundo a necessidade de curar o seu ego que eu (e naquele momento apenas eu) ferira. Eu já estava machadiana, pois o mero pensar dar os cinquenta reais que tinha àquela mulher (que às duas da manhã vendia comida em uma balada de playboy) me pareceu exagero. Não querer o troco me pareceu uma saída menos louca. Saída bem Brás Cubas, diga-se de passagem. O ser humano é podre mesmo e eu não era diferente. Dando-me o maior tabefe no rosto, ela recusou, como se pensasse "não me compre". Golpe de mestre. Senti-me péssima. Insisti muito até que ela aceitou não com a gratidão que eu queria ver em seu rosto (estava fazendo aquilo por ela ou por mim?), mas com um "acabemos com essa encheção; se isso fará bem para o seu ego, sua patricinha de merda..." Não era o meu caso, mas ela tinha o direito e fazia sentido que assim pensasse. Pedi para a menina que também utilizava de seus serviços pagar-lhe um real a mais, pois tinha-a visto comentar que faltava dinheiro. A menina aceitou naquele mais ou menos. Não sei se faria, mas pedi que fizesse e repassasse aos demais. E a corrente do bem passou? Não sei... Esses alternativos de merda não chamam para si, em pequenos sinais, as grandes necessidades; "conscientizam-se", contudo, ao achar o máximo campanhas pelo bem social, pela arte do bem. Pergunta se levantam os seus rabos para irem fazer alguma coisa. Eu levanto o meu? Ali também tratei de consertar o meu erro, sem me desvencilhar daqueles malditos cinquenta reais, ato que, em caridade, pensei sem me mexer e que agora, depois de reflexão mundana, machuca-me o ego. Sou tão podre quanto os outros, pois me mantive imóvel, pensando que a minha ação não era nada. Joguei para o mundo uma parte, com a satisfação de que eu não devia fazer tudo. É difícil essa ideia de Jesus, tanto que você leitor deve ter pensado: "meu, era 50 reais, ela agiu certo..." 50 reais é um troco de pinga em muitos dias de balada, mas poderia lhe significar-lhe sucesso em um dia... Não sou rica, mas gastei, por tantas vezes, 50 reais para ENTRAR em uma danceteria. Agora a necessidade de ter-lhe dado aquele dinheiro era para minha felicidade pessoal ou pela dela?
Um pouco mais cedo, a menina desmaiada. Todos vendo, sem nem olhá-la nos olhos. Saí correndo atrás de ajuda: "oi, tem uma meninas ali, caída" contra "Ah, não é comigo" que ouvi em progressão geométrica. Apenas uma hora depois e quase uma vida a menos, alguém se toca, sensibiliza-se e vai até o local oferecer ajuda. Isso sem falar naqueles que foram ao local onde ela estava caída, olharam-na por obrigação moral, acharam que era encheção de mais para estragar as suas festas e voltaram para seus "altares" de ídolo único, que certamente não era Deus. No óbito, abraçam o defunto, dizendo querem tê-lo ajudado, em vida. Porra! Isso não é normal, alguém mais vê? Busquei ajuda e fui embora, crendo mais uma vez que ao mundo incumbia parte do seu socorro, que eu já fizera a minha parte. Mas se sei eu que o mundo é escroto, deixar com ele o destino daquela menina é menos culpa?
Mais tarde, findaram meu dia sugando o pouco que tinha da minha crendice em uma vida de amor. Sem dó nem piedade, brincaram não com meus sentimentos (que ainda era cedo para existirem), mas com minha fé. Isso é muito pior... Jogaram um balde de mundanices nas minhas esperanças em ligações de alma, algo muito mais complexo que se interessar por alguém. Um balde não era capaz de me fazer tremer se eu já não tivesse vindo de uma sequencia de banhos frios. Eu já estava amassada por outras chacinas. Será que temos de esperar o não dá mais dos outros? Chega desse assunto; já me reabasteci e não vou perder isso com pensamentos maus...
Por essas e outras, naquele momento, eu precisava de energia. Não queria permitir me contaminar com a tristeza de assistir o descaso em primeira fila do espetáculo. Eu busquei no Astronete encher-me de paz. Virou meu mantra. Virou minha missa. Era uma apelo ao lado bom de mim que eu não queria que morresse. Era o retirar os apedrejados da multidão. Era dizer coisas boas para mim, diante dos lamentos sabidamente difíceis de refutar. Colo... Calibrei meus pneus, dançando comigo, curtindo do meu eu. Isso me recompõem de falta de amor do mundo, a falta de amor para mim. Dei-me colo. Mais uma vez. Alguém deveria fazê-lo...