Reparei-me diante do espelho. Silenciosamente rugas e fios brancos. Pareciam ter brotado há poucos segundos. Talvez com o progressivo desbotar da minha ousadia, que desmilinguida escorria preto aguada feito rímel em fim de filme triste. A psicologia sim passou a compor meu álbum da vida, depois de eu, enfim, perceber o grão a mais do debulhar de risos desesperados e de lágrimas desavisadas. Dei-me deveras tardiamente conta do caldeirão das minhas contradições. Veio, contudo, e me felicito. Assustei-me diante de algo que tocou meu ombro. Quando virei, ainda que não entendesse aquilo tudo, disse ao ar "que susto", como se me corrigisse. Não havia ninguém. De cima da minha solidão, todavia, caiam folhas de caderno manuscritas. Sabia ser um devaneio, mas dei azo à dramatização cenográfica da minha tristeza. No chão frio e riscado pelo saltos circunflexos vi páginas espalhadas de um livro que eu conhecia, algumas delas com as pontas ainda picotadas como se a raiva tivesse mãos. Quando me dei conta do sonho em vida, procurei com o coração dilatado outras páginas, mas lembrei que foram subtraídas sorrateiramente por um ente chamado Deus, que eu passei a respeitar muito. Amores foram decapitados pela mão arteira do destino, ou talvez pelo facão que se depositava em sangue na minha mão agora trêmula, após atinar ali dos óbitos que cometi eu mesma. O velho eu diria que foi culpa. O novo apenas sabe do dolo. Cai o facão, suja as páginas, mas não suja a mim, pois o sangue bate e torna, como se eu fosse impermeável. O meu corpo, contudo, por dentro padece, ainda que fora o retinto do rubro não se enuncie. Aliás, como sempre. Abro a boca para um berro que não sai e me impeço, enfim, esse devaneio por desespero de continuar. Saio dali vacinada, com a certeza de que não mais pecarei. E volto a pecar dali 2 dias