Desembaraço

Finalmente, tive coragem. Publiquei meus textos. Todos aqueles por anos calados no meu HD saltitaram pelo www, para poderem ser criticados e ridicularizados. Haviam sido lidos por amigos da mais alta intimidade que talvez silenciaram um riso de desdêm. Agora estão aí jogados às piranhas, para o apetite coletivo. Não temo mais o embaraço...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

CISNE

Amoldo-me, Rebaixo-me, Ajeito-me nesse espaço. Eu me calo, se me há embaraço. Sou cisne, mas de pássaro... 
Eu sou pura. Eu não vôo.

ESPELHO

Me mato, me ressuscito, com um tapa é que revivo. Eu te mato, se te for preciso. Sou cisne, mais um pássaro... 
Eu sou dura. Eu não volto. 


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Sequência Lógica

É preciso morrer para renascer. Essa obviedade é, em muito, esquecida, ao longo dessa vida. Queremos pular as etapas dessa sequência lógica do luto, da abnegação. Toda vez que estamos descrentes, precisamos cavar um buraco para dentro da terra. Cada um tem um tanto a descer, até que sinta falta de respirar ar puro novamente e sentir necessidade de voltar aqui para fora. Toda ruptura, gera a necessidade de encontramos conosco, para depois poder reviver para o mundo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Ter consigo

Há dias que não são para ser. Mantenha-se em casa. Programe seu filme e viva você. Eu desrespeitei essa regra máxima. Tudo aconteceu em contramão do branco, do dia, da tranquilidade. Foi-se garoa, chuva e enfim a tempestade. O trem das onze passou às 11:05. Só nesse dia. Perdi a estrada e um pouco do bom de mim, naqueles blasfemares e insultos ao nada. Irretratável perda. És outra em cada minuto que avança e trouxe à nova um apanhado de carcaça suja. Me deparei comigo e fugia do ter de encarar-me. Sozinha, deixaria a cabeça vaga para pensar em coisas a serem sanadas. Era preciso tomar decisões difíceis. Não seria o momento, contudo. Estava contaminada desse ar fúnebre da morte alheia que desejava. Insisti na saída que era um aborto provocado. Ter com elas parecia bom. Algo não deixava. Decidi esquecer o mundo lá fora, porque ele não me queria hoje, sendo parte sociável dele. O mundo era meu. Ocupei minha cabeça com o nascer da vida. Gramíneas esfumaçantes. E isso me fez mais. Eu ali. Desprotegida em frente de mim. Olá. Como está? Abatida. Com olheiras. Todos esses seus devaneios aparecem na sua cara esbranquiçada. É o seu desprezar de vida boa, de vida certa. Você não dorme, você não come, você divaga em seu ser vazio. Não é contraditório? No que tanto pensa? Pensa nesse real aqui dentro, se acha aqui no meio disso tudo, por favor... Da janela para fora, onde não mora o real de você, já tem gente demais para pensar.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Contradizendo

Por que vocês vêem o meu jeito de amar  e viver sob os jargões de psicologia? Há de existir um problema, um trauma ou uma ferida para uma mulher não querer partilhar sua cama com o mesmo homem por toda sua vida? Seria ela necessariamente promíscua ou desiludida? Aplicar-se-ia à ela, de fato, (e não por costume de dizer), o famoso "isso é porque você não achou a pessoa certa ainda"? Esse quase ditado já tem, a meu ver, premissas erradas. Se somos seres cotidianamente modificáveis, haverá uma única pessoa capaz de nos fazer feliz? Preciso crachar uma relação com algum nome para ter permissão de amar? Eu amo. É plenamente óbvia a constatação de que podemos ter diversos amigos, cada um deles nos proporcionando felicidade no seu bocado, da sua forma, no seu momento. Ainda que a todos eles se ame, certos dias se está mais para um, certos dias, mais para o outro, e não necessariamente se há de excluir ninguém do grêmio. Não abdicaria de qualquer dos meus amigos e das múltiplas formas de alegria que me proporcionam em sua conjunção por apenas um deles. Agora pergunto eu: por que um só amor? Em uma palavra peço que me diga para que apertar o gatilho da multiplicidade do seu eu, da variedade do seu gostar? Família é a única resposta plausível. Porque se pode amar, sem casar. Porque se pode fazer amor, sem casar. Fomos educados a ver no casamento um momento natural da vida, como comer ou dormir. E não o questionamos por muito tempo, mas sabemos que há dias sem sono e dias sem fome. Pelo tempo em que pretensamente essa tal monogamia consagrada em cruz e em pena deu certo, permaneciam as mulheres quietas, as roupas lavadas e a empregada de casa comida. Não acho que um casamento não possa ser bem sucedido, mas me nego a afirmar que o sucesso de um casamento garanta a forma mais plena de felicidade. Creio ainda que ele é um placebo para a solidão. As pessoas têm medo de morrer sozinhas, porque não foram acostumadas a ver em si o bastante. Apegam-se a relacionamentos sem sentido, para poder dizer, para poderem sentir-se seguras e amparadas. Amar alguém se basta em si. Ao menos deveria. Ninguém precisa se postar na frente de duzentas pessoas e mais um padre - que sequer sabe sobre os prazeres e desprazeres daquilo que abençoa - para garantir um amor eterno. Não nasci para eternizar nada que é mutável. E se isto fosse possível: achar em outrem o amplo espectro de possibilidades que me saciaria o ser (fosse esse oposto tão e no mesmo quantum passível de renovação contínua), amaria por mim e mais ninguém. Egoísta seria, ao fim, igualmente, então. Melhor por si do que por só, não?

Além

Bebidas e rosas, uns dedos de prosa, ao som de Buarque. Fazemos do amor um ritual. O momento é aqui e agora. Se o mundo cai lá fora, já não me interessa. Um novo mundo para mim aqui começa. Eu sinto sua alma recostar sobre a minha. Tudo vira cheiro, toque, olhar. Estamos entregues. As peles em unção da carne do encostar transcendente. A sua mão acaricia meu ego. Bailamos em sintonia, enquanto o vento frio adentra a janela. Arrepiam-se os corpos. Saem os espíritos da carcaça ainda quente no vagar do sono. Encontramo-nos novamente. Amor além.

Meira

Pensando, pensando, pensando. A cabeça é mesmo um mundo gigante. Não importa se aqui fora existem as possibilidades desse sonho. Eu planejo, reinvento minha vida em um segundo. E renovada saio dos meus pensamentos. Estava parada em mim, inerte em tanta coisa e uma sinapse cerebral faz palpável o improvável. E se tudo for diferente? Eu posso. Levanto, renovada. Sorrio e fecho a porta de casa. Sou outra.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Seja bem vindo

Não sou famosa. Não tive a idéia do século. Não sou rica ou ascendente nem uma dessas belezas raras. Por que ler esse texto? Não sei. Talvez porque eu seja igual a você. Sinto as minhas idéias e percepções escorregarem na mesma vala em que escorreram as divagações dos idiotas. Na mesma sarjeta onde se debatem os éticos, artistas e ébrios - que, no fundo, são faces dessa mesma face estapeada - socorro meu ego para que ele não sucumba. Estou quase sem forças para salvaguarda desse suicida inveterado. Depois de alguns anos de estudo (pobres dos gênios e ilustrados) e vivência vivenciada (sem pleonasmo e com o rigor do particípio), tudo que eu mais gostaria é ser completamente ignorante de alma. Talvez eu me fizesse entender. Fato é que não me emendo e continuo me metendo onde não devo. Agora pergunto: será que é de todo injusta a eutanásia desse corpo ligado à vida pelo idealismo? Sempre acreditei que a firmeza de caráter me garantiria a afirmação de todas as frases desse introito. Cá com elas começo na negativa não é por acaso. Nada é pensado com o fim de mostrar a você que a moral da história é o correto. O mundo lá fora não é o mesmo desse aí de sua casa, onde o desculpar-se conserta os erros. Aqui, cada um deles é meticulosamente jogado na sua cara e o saldo final é seu rosto de Adeus. As feições caídas e estripadas emolduram-se em Picasso, diante do sopetão da descoberta. A cena faz jus à imbecilidade de sua criação mentirosa. Essa sim imoral. Junto com aqueles pensamentos tão nobres, que hoje descem pelo ralo abaixo na mesma descarga da merda, você passa a não mais reagir. Deixa-los ir. Você passa a saber que esse mundo lá fora apenas acontece, com suas regras soltas. E nas probabilidades imoralmente exatas, em que coroa pode dar cem vezes sem nenhuma cara, de nada adianta se sua moeda não é viciada. Não importam as leis que cominam a ilegalidade do homicídio nem quantas vezes você já foi assaltado. Haverá degolas, latrocínios e outras barbáries das quais o mocinho poderá ver-se vítima, sem chance de novo take.  O mundo é injusto e cruel. Real, contudo. Não lhe parece melhor? Então viverá a mentira da correspondência inatingível, mijando nas calças toda vez que pisa pra fora de casa? A verdade nem sempre é digesta, mas hoje prefiro engolir o meu catarro a comer o escargot de banquete do Mágico de Oz. Seja bem vindo.