Doem os móveis aqui dentro de casa. O relógio me conta que sua hora não passa. Me tiquetaqueia nossas memórias devagar. Eu quero fugir desta sala de estar, em que há um pouco de nós dois emoldurados em esquinas das mesas, porque não tenho certeza se você vai voltar. Nada quis esquecer você por aqui. Me questionaram a não ouvir suas noites sem sono, em um dos dia de abandono em que eu lhe traía com papéis. Roupas em branco, sorrisos abertos, brilhavam nossos anéis. Desejei olhar bem de perto você para comparar a foto com novas marcas do seu envelhecer que queria fosse nosso. Não posso mais. Quantas vezes você não olhou para aquela fotografia da cabeceira? E quantas vezes a noite não se fez mais fria e traiçoeira, porque eu não pude aquecer teus pensamentos truncados em suposições? Agora parecem roucas minhas explicações. Você tem direito de conjeturar haver amantes neste meu semblante de culpa, que não foi sua.
Amor havia e ainda há, e se é isso que te fará voltar, pode vir pode vir...
Amor há e haverá, e se por dúvida que você fez me deixar, pode confiar em mim...
Eu tenho orado tanto para o tal de homem Santo a quem você me ensinou a rezar. Almejando encontrar você na minha prece e que eu silencio e peço que regresse como se pudesse me escutar. Eu vejo a vida toda errada. A casa, a alma bagunçadas fazem duro o meu penar. Não foi por desleixo que deixei tudo como está. Era a última cena do seu adeus, que eu achei você ía ter de reensaiar.
Amor havia e ainda há, e se é isso que te fará voltar, pode vir pode vir...
Amor há e haverá, e se por dúvida que você fez me deixar, pode confiar em mim...
A flor sobrevive já no raso. E emudece os dias em que você fez chuva no seu vaso. Dias em que eu esquecia de chover... Sem prosa, eu saía para ter mais. Você me pedia calma, e uns minutos de paz diante daquela linda rosa que eu lhe dei. Ela agora insiste em viver sem reclamar a ausência da tua natureza, porque talvez também não tenha certeza de que você vai voltar. As teimosas cortinas ignoraram o pedido que fiz a elas, fazem relances de você na janela, a me acenar um falso adeus. Mal sabia que já ensaiava o final dos erros meus.
Amor havia e ainda há, e se é isso que te fará voltar, pode vir pode vir...
Amor há e haverá, e se por dúvida que você fez me deixar, pode confiar em mim...
O chão calou os passos de rotina e tornam minha sabatina algo menor duro de viver. Mas toda hora me deparo com a cor do cedro que você insistiu, aquela estátua dura e hostil que você quis por para afasta o mal olhado. Ele chegou por aqui, com o seu recado de partida e fez a moldura colorida perder um pouco da sua cor. Tudo aqui agora um pouco branqueou. E assisti nós brigando pelo tom da parede. Discutimos o som da sua sede, nas noites acordados em nossa tv, com quem você cantava o borderô do comercial. Namoramos ao som da vitrola do seu avô que também fizeram dormir no seu colo o melhor ritual do final de semana. Agora eu que divido a cama com o meu desespero.
Amor havia e ainda há, e se é isso que te fará voltar, pode vir pode vir...
Amor há e haverá, e se por dúvida que você fez me deixar, pode confiar em mim...
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