Desembaraço

Finalmente, tive coragem. Publiquei meus textos. Todos aqueles por anos calados no meu HD saltitaram pelo www, para poderem ser criticados e ridicularizados. Haviam sido lidos por amigos da mais alta intimidade que talvez silenciaram um riso de desdêm. Agora estão aí jogados às piranhas, para o apetite coletivo. Não temo mais o embaraço...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Lual e Prece

Sentado na praia vontade que dá de sentir o sopro, o gosto do mar. Nadando nas ondas vontade de mais, de um muito que é pouco, para quem não tem paz. Areia é veia de canto. Minha casa é cheia de pranto,então eu só queria ficar. Arreia na ceia o manto. Minta e faça sereia um encanto que nos permita voltar. É dia de Lual. É dia de Luar. Eu posso fingir que sou outro. Posso sentir que o encontro não vai se acabar. Esquecer meus minutos de dor. Agora é a hora do amor poder me doer. Só quando amanhecer eu volto para o meu calabouço. E lá que enfrento meus monstros, quando lembrar o que me fiz esquecer. Acabou o Luar. Acabou o Lual.

Cercado de vaia eles querem que eu vá, e é só o desgosto que me permite lutar. Remando na vida o cansaço se faz, o pouco é muito, para quem não tem próprio cais. Centenas do vilarejo não sabem nem ler. Daí porque o desejo de às vezes esquecer, e eu só ía tentar... Sem pena, o sertanejo se entrega ao morrer. Cai no cortejo pra tentar escapar. É dia de Pressa. É dia de Prece. Eu não posso mentir quem sou eu. Não posso acenar um adeus. Devo lembrar os instantes de  amor. Agora é a hora da dor ter de amar. Só quando escurecer eu penso na mentira. E lá que me iludo com falsa epifania, quando esquecer de lembrar. Acabou a Prece. Acabou a Pressa.

Sentado na praia...

****Crônica: Altruísmo

Quem explica as travessuras dele? Menino criado no leite com pera. Tudo do bom e do melhor. Mas o danado, deu pra ser capeta mesmo. Não deixava ninguém parado. O silêncio era tão incomum que doía muito no ouvido, quando ele saía. O bicho era o demo, o erê. Na verdade, esses o aplaudiam e sentavam com ele para ter aulas. O safado até falava: "Mainha, você não viu nada... Eu que ensino este seu tal de bicho papão a assustar". Veio o juízo não sei da onde. Foi ela. Casou, estudou, virou patrão. E como em casa era ela que encarnava o capeta, ele descontava sua energia no lombo dos funcionários. Ixi se alguém fazia algo que não gostava. Não gritava, não blasfemava, nada. No outro dia esperasse... Lá estava alguma gozação baixa. Sabia o ponto fraco das pessoas e investigava as particularidades e segredos de cada um para ter o que falar, caso precisasse. Precavido, ele era precavido ainda que a maldade nunca lhe tivesse resvalado. Nunca foi assaltado, não foi traído nem magoado, mas não se sabe como sabia extamamente como perpetrar cada um destes verbos. Era mal caráter. Nasceu com a coisa ruim mesmo. Era armado até os dentes com tentativas de invasão da sua vida, mas não havia escudo que o impedisse de sondar a vida alheia. Traições, escapadas, noites de loucura dos mais competentes empregados. Conhecia todos os traficantes, prostitutas e picaretas. Foram seus companheiros no passado. O cara virara rei, com o conhecimento de plebe. Tinha a aparência de alta classe, mas convivia com os mais baixos escalões da sociedade, que o muniam com todas as histórias necessárias a rebater atitudes que julgasse incorretas ou irreverentes. Só ele podia ser irreverente. E ninguém se atrevia a bater de frente com o monumento que ele estatuiu em torno de si. Só ela. Chegava em casa, ía preparar a janta. Ela estava cansada e ele se convencia de que não havia qualquer submissão nisso. Era gentileza, sou um homem moderno. Todos acreditavam... Como aquele cabra vai aguentar mulher mandando nele? Há! Amor, você não quer ver aquele filme que estreou comigo? Puta que pariu, Alexandre, depois do meu dia agitado de trabalho, você ainda vem querer ver aquela porcaria de arma pra cá, tiro pra lá... Como você aguenta, homem de Deus? Amém, meu bem. Era assim que lidava com o boi Zebu: não retrucava. As mulheres são pior que as mitralhadoras daquele filme que queria assistir. E aquela, meu caro... E com este discurso da preguiça, o mal Macunaíma justificava a inação. Se começasse, era dor de cabeça por muitos dias, amigo. Dele e dela que ía levantar a lebre cada vez que ele quisesse pular da ação das telas para outro tipo de filminho... Mas a irmã da Marisa era madrinha do filho do Geraldo, que era cunhado do Fábio, que saíra da empresa. O Fábio era um cara sempre tranquilo. Pacato, pacato. Mas um dia, "pisou na bola". E errar com aquele cara, é pedir pra sair, parceiro. Fábio nem esperou. Chefe, eu me demito. Não, Fábio, você é um ótimo funcionário. Exijo que fique. Mas, é que patrão, eu... Eu já sei Fábio, sei de tudo. Você quer ou não ficar? Claro! Claro! Mas o senhor, sabe mesmo? O que acha? Está me chamando de bobo? Está me achando idiota, Fábio? Não, imag... Demitido! E riu como o Justos, ao ensaiar para o "Aprendiz". Fábio se zangou e entendeu a peraltice. Engoliu. Deglutiu. Mas vomitou. Ninguém estava no escritório aquele dia. Ele estranhou. Olhou para os lados e imaginou que no mínimo o metrô dos suburbanos parou. Subiu na sua larga sala e ninguém apareceu. Pensou em trocar o papel higiênico dos banheiros aquele dia, mas desistiu porque a rebeldia não devia gerar concessões. Deveria ser punidos. Chegou em casa, cabreiro. Eram mil planos na mente para amanhã. Não deu tempo. Todos sentados na sua sala. Era seu aniversário e nos auges dos seus cinquenta e dois anos, aquele era um acontecimento que ele não mais lembrava. Nem imaginou a surpresa, mesmo porque sabia que ninguém tinha motivos para querer fazê-lo feliz e - justamente por ter se esquecido de pensar nisso, quando ainda dava tempo - aprendera a fazer da sua alegria a desgraça alheia. Aquele era o dia do vice-versa para todos menos para ele, porque a alteração dos fatores resultava em um novo produto que ele desconhecia. Sentiu-se injustiçado. Parecia nu diante de todos. Foi como se sentiu. Engoliu. Deglutiu. E se cagou. Todos sentados com a mulher dele, inclusive o Fábio, que foi quem preparou a festa, "em agradecimento aos prazerosos anos de trabalho". Foi o que constou no cartão. Riam, riam e riam sobre suas histórias desmistificadas por Marisa, no exato momento em que a trinca da porta virou e ecoou um vigoroso "surpresa" e se segurou o "canalha" nas gargalhas, que eram mais polidas, mas não mais sutis. Foi a única vez que sentiu a ironia, que, contudo, muitas vezes fez sentirem. Cinquanta e três anos... O altruísmo tem seu lado sórdido.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Acordava cedo e tramava. Ainda que não houvesse surpresa, ela fingia, só para me fazer feliz. Toda sua vida girava em torno disto: fazer-me sorrir. Não há mais festas. Hoje é um dia difícil. A maior das comemoração, era tê-la ao meu lado e eu sequer sabia disso. Celebrava mais um ano de vida, mas deveria ter festejado cada segundo de sua enorme existência. Agora a vida é difícil. Lembrar é pesado. Sua voz grossa, seu olhar curioso, sua mansidão no peito, amolecido e sofrido pelos percalços da vida faziam de sua presença avassaladora. Ela era a confrontação, em pessoa. Ainda que sua sabedoria popular nem sempre correspondesse as páginas dos livros didáticos, ninguém ousara dizê-la errada. Sempre havia alguma verdade em suas palavras. Era respeitada. Diante de todos, fez-se mito de força, sem contar-lhes que também havia se tornado frágil. Era mulher e, como tal, sabia ter o dom do sofrimento, mas se aquilo doía, ninguém sabia. Era na sua solidão que talvez desse espaço às suas fraquezas. E por isso, cobrava-me valentia. Nós duas haviamos perdido, eu, sete anos de lembranças vagas e ela, trinta e oito da realidade concreta dos corredores de hospital e mais nove meses de sonhos e planos do novo quarto rosa. Enquanto as lágrimas rolavam pelo meu rosto ainda sem rugas, o seu, seco, me mostravam que eu não tinha o direito de chorar. Cada ano que passa a ficha cai mais. Ela se foi.

domingo, 24 de abril de 2011

***Crônica: Cabana e Laptop

Bateu de frente. Com meus conceitos arragaigados. Hermeticamente confeccionados. Perfeitamente estruturados. E ele veio... E fez duvidas. Como? Sempre fui daquelas que não mudava de opinião. Planejei a vida inteira com exatidão de milímetros. Cada idéia era avaliada pelo mais elevado clã. Os meus Deuses do Olimpo se juntavam para debater a minha vida. E decidiam. Eu repetia as instruções com o rigor de um soldado alemão em missão do Fuller, fazendo das ordens familiares minha vida. Ou não vida. Eram passos a seguir pegadas já desenhadas no chão. Tão-somente. Não era apática, contudo. Pior que isso: era convencida. Persuadi a mim mesma e cri na versão de que tudo aquilo era o que eu queria. É mais fácil aos dominados acreditar que sua vida tem um propósito. Comprei a propaganda e vendi o produto, como se fosse a dona da marca. Mas caminhava, caminhava, sem nem pensar se a mercadoria era boa. Diziam os consumidores que era necessária e eu a usufruía como bem de primeira necessidade consumeirista. Focava-me só na perfeição, que era o ímã da minha andança.  Queria sempre mais e já me esquecia o prazer das coisas que tinha. Pós graduada, PHD, conceituada, pra quê? Aqueles broches no terno de seda não  me traziam o êxtase de um amar amando. Nem lembrava como era. Cada transa era uma forma de redução do stress, posto que necessário.  E se eu não quisesse ganhar mais dinheiro? E se eu tivesse cansada de fazer do meu curriculum um enorme letreiro? Palavras soltas que não vivem nada. Que não me trazem mais do que títulos que eu sequer pude aproveitar... Meus planos se esvairiam como quadros de Dali. Eu não era feliz. Senti arrependimento de lutar tanto por uma batalha da qual sairia vencedor alguém já a tal destinado pelos diplomatas mancomunados. Desesperei-me, ao olhar para trás e não ver ninguém, além de mim. Eu era a mais bem sucedida, e justamente por ser membro de um estamento elevado, punha-me lá sozinha na minha toda bem sucedida e solitária vida. Bem-feito, prepotência. E, neste contexto, qual era a graça da reverência dos outros perante alguém fracassada em amor? Quem me explica a felicidade de ser exemplo mais incipiente nas artes dos sentimentos de vida do que eu? Quero errar. Posso errar. Devo errar. Com isso tudo esquecera o dom de amar. Não sentia mais frio na barriga quando alguém se aproximava. Ouvia juras de amor de apaixonados com um "até parece" já esperando sua hora de fazer sentido... Sempre fazia. Mas, pirei com ele. Talvez aquele eco não encontrasse mais espaço para soar na minha vida. O cara me virou do avesso e me fez achar o "até parece" uma frase pessimista. E por isso fez um antigo amor voltar forte na minha cabeça. Seria também pessimismo? Estranho que por me amar tenha me despertado o amor de outro, o amor por outro. Imaginava-me casada, porque isso era algo a que todos estavam fadados. Não se falava de pessoas felizes em sua solteirice. Eu, na reiteração da falta de crítica, vendi a idéia com o mesmo afã que os primeiros estoques. Estranhamente, não imaginava o amor, porque para mim isso era um detalhe. Uma pessoa para eu viver precisava ter os mesmos ideais, bom humor e um travesseiro próprio. Estavam trocadas as alianças. Mas meu alvo de amor, aquele que rememorei, não era o ideal, era real, e como tal, imperfeito. Foi por isso que o mandei embora... Aquele novo ser, tão imperfeito como o primeiro, só que com mais psicologia, tocou no mais porão de mim. Tudo que não me servia estava lá. Porque eu também não queria me livrar de nada. Como cego a tatear imaginava que algo daquilo tinha seu valor se arrematado. Não sabia o quê, mas imaginava. Como criança nova que se esconde após fazer algo que já intui fará ecoar um "Rodrigoooooooooooooo", ao invés do carinhoso "filho" ou do apelido que já estava achando ser o seu nome. Naqueles minutos sabiam que ou Rodrigo era um homem mau. O Rô temia o Rodrigoooooooo. Acho que me expressei bem. Pois, então lá guardava aquele sentimento. Nem eu sabia onde. Estava lá jogado junto com a solidariedade, com o descanso e com a humildade, coisas que meu compulsivo toque por crescer na vida deixaram de lado. Estava eu sabendo mais e isso me fazia mais arrogante. E do amor sabia eu menos, e não me sentia ignorante por isso. Até então... Ele me mostrou o quanto idiota capitalista eu era, não obstante meus discursinhos e textos pró socialismo. É fácil defender a igualdade, comendo brioches comprados de muito dinheiro tirado de uma carteira calvin klein... Eu justificava minha escolha na nobre desculpa de que queria crescimento pessoal. Mas sabia que o que queria era uma bolsa nova a cada mês e ele não poderia me dar. Foi aí que percebi onde eu tinha ido parar. Perdera meus valores mais caros. Ele me fez ver como imatura eu era, ainda que gritasse aos ventos as minhas "experiências". Todas no passado. Óbvio. No mais remoto do passado. No meu tempo, só havia eu. E a conjugação da terceira pessoa era sempre assim: ele fará para mim, ele perderá para mim, ele sucumbirá a mim. É como bacharéis de Direito conjugam verbos... Procurei um antigo amor. E vi quão despreparada eu era para dizer "eu te amo". E quão minhas aquisições intelectuais eram despropositadas. De fato, nenhum sábio ousaria contar a um trabalhador, em seu mais forte vapor laboral, que, no final da vida,  todos os dias em que optou pelo suor em detrimento da companhia dela redundariam em solidão. Sendo eu o protótipo do sucesso, menos se atreveriam a contestar o modelo de sucesso que em mim se fazia concreto. Era o que o mundo precisava... E quem atentou para a coadjuvante? Não era ela certamente o que achavam essencial à sociedade, e por isso sua ação era colocada em penumbra. Ela era louca. Apaixonada, mas desempregada que não queria nenhum bem que seu trabalho poderia comprar, queria você e por não tê-lo foi atrás de outro alguém que a desse apenas seu colo em uma noite escura de uma favela ou de um palacete. Tanto fazia. Era a companhia que importava. Eu não sentia necessidade. Até então... O saldo desta contada história que se passava as gerações futuras era o ócio dela.  E como isso tinha que trazer a impressão de tristeza, pintava-se a paixão de insensatez, que coíbe o reflexo do espelho. É assim que a História é replicada, por entre a nova Epoque de estudo e emprego. Palestras de universidade. Era a moça louca, uma irracional, que por não ser compreensiva (como se pudesse sê-lo) foi condenada a não ser ninguém. E eu que era o que chamam de "alguém" preferia o anonimato, desde que entregue a mais bestial das paixões. Sentia-me assim com ele. Por muito tempo, contudo, fui aplaudida pelo estereótipo social. Tudo na minha vida parecia certo. E ainda que não fosse exatamente o que queriam ninguém metia o bedelho nas escolhas da minha senilidade. Os meus Deuses do Olimpo não eram imortais e ainda que as decisões seguissem um contexto mecânico já idealizado, não passavam mais por outra revisão que não a minha e eu não tinha o dom da auto-crítica. Ninguém também ousaria me apontar o dedo para dizer que eu agia errado. Ah  mas  ele fazia, com seu jeito de amor, mas fazia. Passei a questionar. Primeiro, quis impor o mesmo estilo de vida, afinal era igual ao de comercial da Coca-Cola. Vá estudar, ninguém vive sem escola. Critiquei o seu jeito de não querer mais dinheiro e não entendia como alguém não queria ser o melhor no que fazia. Você não pode se contentar em ser mais um. Ouvi um sonoro "Por que não?" Tapa na cara. Por que não? Eu não tinha resposta, mas era ensinada a dizer que não podia ser assim Só tinha me esquecido de perguntar a razão. E foi assim que vivi, durante anos. Era o certo a se fazer... Era? não sabia mais dizer... Mas sabia fazer discursos perante inúmeros juristas renomados e diante das inúmeras excelências que frente a mim se colocavam. Eu, de fato, surpreendia pela minha pouca idade e muita eloquência. Mas me envergonhava de não saber mais como é possível largar tudo por um amor. Não conseguia me livrar da vontade de comprar um utensílio inútil, de vez em quando. Não sabia amar. O cara me ofereceu sua casa de pescador e seu amor para comer. Eu fui. Peguei meu laptop e fui correndo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Psicanalista Barata

Era opção de quem não tem credo. Eu queria tentar odiá-lo, mas, não conseguia. Suas inações, revesti de falta de sabedoria. Seu falso destemor, da inabilidade de sentir dor. Coitado, não tinha auto-confiança, pois sofrera. Eu também sofrera e me fiz mulher forte no tapa, amigo. Era um tabefe da vida em plena a puberdade. Cada ano que passava vinha uma novidade que eu sequer parecia poder encarar. Novidades... De benesse só tinha a idéia de positividade implícita da palavra (que para mim era tão implícita que não aparecia). Em fila indiana vinham elas, e ele lá parado, sem saber como reagir. Sem derramar lágrimas, mas com o mais difícil chorar dentro de si. Não admitia que doía e daí começavam meus percalços e as minhas desculpas. Se dissesse a si o quanto era duro, talvez haveria estímulo à ação. Achava tudo fácil e como era um "homem afeito as dificuldades" não as enfrentava com o jargão familiar da "simplicidade" daquelas "novidades", que, na verdade, era placebo para negligenciar a complexidade dos detalhes. Eram sensações do mais alto escalão, poxa. Mas o sentir não são atos. Grandes projetos de engenharia, problemas de grana era concretos e esses lhe davam idéia de esforço, de dificuldade. Enfrentava-os muito bem, obrigado. O doer do mundo nas internalidades não lhe eram nada... Comecei a pensar em odiá-lo ao me dar presentes, sem uma palavra. Ganhei de tudo do bom e do melhor, pois os bens são concretos. Perdi de tudo do bom e do melhor, pois os maiores bens são abstratos. Ele não sabia. Como as confissões, além de altruísmo, não deixam de ser exposições de fragilidade, cada cartão o "eu te amo" lhe parecia "senti-me só e precise de você", então não se dava à "simplicidade" de escrever. Eu gostava de o analisar, de o decifrar e de jogar na sua cara cada descoberta sobre o seu ser, porque, no fundo, achava que podia tocá-lo, fazê-lo refletir. Desisti. Se o toquei não sei, porque exposições são concretas e nascem de algo tão concreto quanto elas e não havia nada ali. Era o que achava. Passei a odiá-lo: foi no exato momento em que ele me disse eu Te Amo.

domingo, 17 de abril de 2011

Aguarda-se

O outro era eu. Entristecido por restos de histórias, por falsas memórias, por idéias que não vendem. Quem comprará a bibliografia de um fracassado? Me vi em cada linha amorfa a se delinear por trás dos óculos embaçados. Para que tornar límpida a visão de um mundo turvo? Todos estão surdos! Dizia com um grave incomum, mas sem exasperação (pois essa ainda é sinal de esperança que ele não mais tinha). Vendeu seus idealismos com as quinquilharias inúteis em liquidação. Eram ímpetos revolucionários tão fúteis quanto elas. Eu o criticava tanto e agora era o mais novo membro do clã dos conformados. Aguarda-se. Todos, ora ou outra, se (de)formam em apatia.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mãe

Me seguro no corrimão da sua estrada e ao sentir que o rumo é apenas um viés de quase nada. Vejo-me refém das suas escolhas imaturas. Não vou embora. Não consigo ir. Sinto-me culpada de deixar você sem os meus decifres. Sem os meus palpites. Quem dá discernimento a você? Você não me quer fora. Você não quer se despedir. Eu quero estar em cada detalhe da sua agenda. Mas por favor entenda. Nao é controle, é minha forma de te amar. Quero saber que dor te faz mais humano. Quero saber em que parte da estrofe você vê um engano. Só quero saber. Portanto, quando se lembrar das broncas não se zangue. Cada pedaço de mim que corre no seu sangue vai te fazer vencer. Só rezo, só vivo, para fazer você crescer.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Suicidado

Desprovido de sentido, o universo dissuadido não quer mais me encontrar. Colocou-me fora da órbita e em sua veia mórbida fez do meu grito um suspirar. E sem a minha ideologia, me entreguei a covardia de esquecer de questionar. É mais fácil fazer parte, do que querer mostrar minha arte a quem ão sabe apreciar. Integrei-me à rotina e à minha sabatina um prozac vem somar. Parei de ler artigos loucos, entendi que o suspiro rouco é fadado ao sufucar.

Sentei-me diante de mim, olhei-me fundo ali parado. Nem sinal da causa mortis, nem quem me fez suicidado. Não havia mais nada do que carcaça tola, idéias todas. Sem mais do eu, senti me exposto e vulnerável. Um mostro de faces trazidas de última hora. Amargo gosto de ter me deixado embora. E me envergonho. Percebi que não sabia mais o verbete do meu próprio sonho. Onde é que eu estava naquele meio dos outros? Onde eu que eu me punha naquele meio de todos?