Foi entre a sessão dos laticínios e das verdura que aquele doido apareceu. Olhou-me a primeira vez a admirar minha imponência, a independência que talvez não tinha em casa. Fazer compras as 2 da manhã é sinal de solidão. A minha se fez evidente sem que eu reparasse. O olhar de desdém na contramão bloqueava o meu caminho. Eram inegáveis os indícios no carrinho. Compras de solteiro: lasanha, enlatados e um pote de brigadeiro. Me fiz esquecer. Passei pelo setor de bebidas e pensei em tomar um vinho. Mas a bebida não foi feita pra quem está sozinho. Optei pelo refrigerante. O álcool seria levante... Gostava de estar só. Eu "me fazia feliz com a situação". Dizia a todos que a falta de alter era opção da vida vintecentista. Mas eu me incomodara com aquele oportunista das fraquezas "invisíveis", justamente por saber que o meu discurso era desculpa esfarrapada da minha inabilidade tão perceptível diante de mim mesma. A verdade é triste em sem impor aos autores das mentiras. Aquele homem me encarou como quem percebeu o pensamento. Paguei a conta, coloquei as compras, saí do estacionamento. Ele buzinou, voltou de ré, me mandou farol alto. Eu desconfiada cogitei que seria um assalto, mas ele sorriu. Senti confiança. Hesitei, quando tive a lembrança de histórias de gente que morre por aí. Parti a primeira e recuei ao ponto inicial. Ele desceu do carro e me fez um sinal. Senti que podia. Debruçou no meu vidro, apresentou-se como doença incurável: "médico e casado". Disse voltar ao Pará na segunda, amanhã fecharia seu último compromisso inadiável. Viera fazer a residência. Partiria... A impossibilidade de adiar-se surtiu efeito. Fez-se a indecência: dei meu telefone. Cheguei em casa e se fez o toque. Me ofertou uma noite de sexo e eu sei nenhum choque, combinei. Tudo no impulso, sem pensar. Percebendo a traquinagem divina sem nexo achei que devia recusar... Disse ser uma aventura. Eu gritei ser loucura. E, dessa vez, não fui... Ligou, religou, insistiu. Eu fui descansar. Por quê? Me perguntei por que. Tinha virado moralista. Havia alguém a quem amava e agora aquilo doía, inviabilizando-me de ser egoísta. Eu pensava na mulher que estava a o esperar em casa...
Desembaraço
Finalmente, tive coragem. Publiquei meus textos. Todos aqueles por anos calados no meu HD saltitaram pelo www, para poderem ser criticados e ridicularizados. Haviam sido lidos por amigos da mais alta intimidade que talvez silenciaram um riso de desdêm. Agora estão aí jogados às piranhas, para o apetite coletivo. Não temo mais o embaraço...
quarta-feira, 30 de março de 2011
Inspiração
Sem melancolia, não faço poesia. Preciso facear a solidão, enfrentar a dor, me embebedar de incorfomismo. Preciso estar na escuridão, sofrer de amor, ou titubear de frente pro abismo. Nada macula meus vícios, só acordo da bebida com um tapa rosto. Nem me abalo com isso, não me importa o gosto. Continuo no álcool. A arte da bebida é mesmo desatino, faz combustão para meus dois cigarros. A parte desmedida eu satiro, sem consternação escuto os minutos de sarros. Sem pena, não há poema. É a tristeza que faz o respirar da vida, é o se afundar no fundo do poço que me faz não ver saída. Nenhum bom soneto se faz sem um pingo de auto punição. É sem graça não me reverto em destruição. Qual é o choro dos alegres d'alma? A calma não faz rimas humanas. Se engana se acha que estes versos emergem de uma paixão. É no anseio da morte que me vem inspiração...
quarta-feira, 23 de março de 2011
Meretriz
Entrou no quarto e se despiu do cetim. Eu só queria uns minutos de romantismo barato. Ela não quis.
Virou de quatro e nem sorriu para mim. Eu não queria me sentir um ingrato. Mas foi o que fiz. Aquilo era pouco para as minhas vontades. Era por troco, não omito verdades: procurei uma meretriz.
Partiu pela porta com cara de indiferença. Eu só queria um instante de felicidade. Ela não quis.
A roupa torta era pressa de nova presença. Eu nem queria fazer caridades. Mas foi o que fiz. Trouxe-lhe centena de presentes finos. Era por pena, não omito desatinos: me apaixonei pela meretriz.
Correu para o cômodo e me fez um gracejo. Eu só queria uns minutos de vivência profana. Ela não quis.
Esqueceu o incômodo e me olhou com desejo. Eu não queria me sentir sacana. Mas foi o que fiz. Aquilo era cedo para as minhas vaidades. Era por medo, não omito verdades: não me envolveria com a meretriz.
Saiu pelo corredor com cara de retorno. Eu só queria uns instantes de esquecimento. Ela não quis.
O seu pudor era como um estorno. Eu não queria prover-lhe constrangimento. Mas foi o que fiz. Furtei-lhe a alegria que lhe havia refeito. Era por hipocrisia, não me faço perfeito: não vi mais a meretriz.
Virou de quatro e nem sorriu para mim. Eu não queria me sentir um ingrato. Mas foi o que fiz. Aquilo era pouco para as minhas vontades. Era por troco, não omito verdades: procurei uma meretriz.
Partiu pela porta com cara de indiferença. Eu só queria um instante de felicidade. Ela não quis.
A roupa torta era pressa de nova presença. Eu nem queria fazer caridades. Mas foi o que fiz. Trouxe-lhe centena de presentes finos. Era por pena, não omito desatinos: me apaixonei pela meretriz.
Correu para o cômodo e me fez um gracejo. Eu só queria uns minutos de vivência profana. Ela não quis.
Esqueceu o incômodo e me olhou com desejo. Eu não queria me sentir sacana. Mas foi o que fiz. Aquilo era cedo para as minhas vaidades. Era por medo, não omito verdades: não me envolveria com a meretriz.
Saiu pelo corredor com cara de retorno. Eu só queria uns instantes de esquecimento. Ela não quis.
O seu pudor era como um estorno. Eu não queria prover-lhe constrangimento. Mas foi o que fiz. Furtei-lhe a alegria que lhe havia refeito. Era por hipocrisia, não me faço perfeito: não vi mais a meretriz.
terça-feira, 22 de março de 2011
Ode à Insonia
Chega ela em vagar na noite, quando a lua alumia a crua verdade: não há metade que complete o teu jeito torpe. "Estás só" e não tem ela dó de fazer-te atinar. Deixa-te durante o dia e no meio da madrugada fria mostra-te como prêmio o cansaço. Não há espaço na cama que consigas ocupar. No escurecer de verão, maneja com a solidão quem daquela vez vai se dar ao luxo de ganhar. Nas noites gélidas, em que há certo estímulo ao aconchego altruísta, faz-se talentosa artista a chamar tua atenção. Faz peça no branco da parede e tu espectador tem sede de que chegue a trama ao seu final. Desvia-te daquele corpo escultural que se coloca diante de ti recostado em sono. Lembra-te ela que o abandono é verdade vindoura. "Depois de alguns instantes, não haverá na tua cama mais amantes; só eu tripudiarei diante de teu posposto sono". Não consegues ser dono sequer da tua alma. Ela domina-te no bater da hora, que não demora a passar. Fará ela vezes de mulher esquecida e, por vingança, decapitará a sua sortida frente de tentativas de repousar. "Não conseguirás dormir". E quando ela partir estará o sol lá fora a te lembrar: "Já é hora de trabalhar". E tu nem pregaste o olho...
Amém
Acho que a crendice é um conforto dos covardes
Preferem erigir dogmas a questionar fatos,
Endeusar terceiros a procurar a divindade dentro de si mesmo
Se escapam pelo ladrão hipócritas desse mundo, por que haveria eu de ser diferente?
Seria muito dignificante, mas esse tipo de êxito não me dá lucro
Isso move os traseiros capitalistas do mundo em que vivo
Melhor esperar desse tal de Jesus a outra face e continuar bofeteando cada cara lavada
De esplendoroso, basta-me a crítica, que é tão mais apática e menos cansativa
E ainda me dá o pão de cada dia.
Vejam: não sou de fato um pagão abençoado! Não seria injusto?
Eu não preciso ser melhor, mudar o mundo ou trazer o emplasto da alegria
Fodam-se as futuras gerações que ficam
Que morram com a avalanche de carbono
Que se afoguem com enchentes de merda que vazam das bocas cínicas
Escondem seu discurso atrás do manto verde, da mesma cor do dinheiro
Que verdadeiramente os impulsiona
Não há mais solidariedade e altruísmo nas mentes vintistas
Nosso século sofre do vírus do egoísmo e da epidemia da autoflagelação
Escondem a regularidade cansativa dos comportamentos na busca de idiossincrasias
Nós somos de fato os mesmos
Alguns descendentes dos Cubas, outros dos Nazarenos
Se a saga jesuína é literalmente conto do vigário
E se esse nada mais é para mim do que um pederasta enrustido
Aquele certamente cedeu as tentações da carne já usada da meretriz
Não confio em cruzatistas da igualdade
Que lutam em um mundo paralelo e irreal
Onde a podridão é a do dente trocado por ouro
Em que a dor que aflige é a do estômago esfalfado,
Após a impulsão de um banquete pago com teus míseros tostões
Não poderiam viver no mesmo lodo pobre e faminto dos equânimes?
Anestia-me com a óstia do coma
Embriaga-me com esse líquido do medo
Compartilha comigo cada pedaço sujo do corpo desses pedófilos
Que Assim seja
E que assim continue a ser
Novo Amor
Não culpe os desiludidos do amor
Talvez sejam eles reincidentes na dor de desiludir
Um dia caíram no seu próprio enredo
E ao revelarem-lhe o segredo da vulnerabilidade
Lembraram-se frágeis...
Não julgue os desprovidos de encanto
Talvez tenham sido recorrentes os prantos de socorro que no silêncio sucumbiram
Um dia obtiveram um eco de alento
E ao perceberem ser só o vento a chocar-se na porta
Lembrarem-se sozinhos...
Não aponte os descrentes de bondade
Talvez não tenha havido verdade em qualquer das palavras a eles ditas
Um dia deram ouvidos a um dos mais sábios letrados
E foram ludibriados pela sua ínfima confiança na alteridade que lhes restara
Lembraram-se ingênuos...
De repente, vem alguém à porta
Cobrando-lhes fé? Confiança?
De repente, quando Inês já é morta
Vão pedir-lhe o quê? Perseverança?
Se o homem é capaz de criar um campo de batalha
Se a navalha já não é mais o único meio de fazer brotar o sangue
Se a modernidade criou com ela todos os tipos de medo
Se a humanidade tornou viável a modalidade de degredo interior
Como poderão acreditar em algo, com essa depressão contemporânea?
Se todos os homens lhes bateram, ainda que com flores
Se os maiores amores lhes fizeram chorar
Se o inebrio do sonho lhes fez maior a queda na concretude
Se toda atitude que teve de amor fez desferirem-lhe indiferença
Como poderão acreditar em algo, com essa desilusão atemporal?
Peço-lhe Desculpa, por não poderem.
E questiono: continuarás lutando?
Comum Humano
Não encontramos no mundo correspondência exata
Há apenas peças desconexas de uma mesma faceta
Que encontram em outro um encaixe
Afinidades do comum humano
O mundo revira e volta em si mesmo
Reage diante das atrocidades humanas com suas leis imutáveis
Resgata histórias e apaga tristezas
A menos ameniza as mágoas e a inevitável morte
No fim, contudo, não há sorte no mundo que nos traga bons amigos
Há apenas amizade reflexa...
Palhaço
Se o palhaço pudesse dizer o que sente, não calaria a calúnia, não alimentaria a alienação, não ensejaria a insanidade. Vã alma desgraçada a respirar apatia para
rir e fazer rir. Mas queres palhaço abrir a tua boca para discutires a aritmética exata das integrais ou a coerência de textos shakespearianos? Fazes gargalhar os desiludidos que buscam a cegueira e a loucura como remédios da alma incurável. Fazes refletir os melancólicos sobre a solidão de dar o riso sem senti-lo. É o teu papel. Fazê-los tolos...
O que é o excesso de riso senão dor contida?
O que é uma exacerbação do sentimento senão uma carência escondida?
Qual é a graça da tristeza se não refletir sobre a alegria ilusória?
Qual é a graça da dúvida se a certeza, ainda que falsa, é tão mais satisfatória?
Os desiludidos cansam de proclamar propriedades em ouvidos surdos à complexidade. Enquanto os melancólicos procuram impropriedades e deslizes na simplória alegria alheia. E nessa concorrente oscilante, reinas palhaço. Transmites a apatia enquanto sofres a melancolia. A dualidade inerente a tua veia dramático-satírica faz do riso teu quadro e tua máscara.
Um Simples Porta-Retrato
Pus nossa foto em um porta-retrato na sala.
O simbolismo disso, doutor?
Não há qualquer representatividade em um ato tão banal.
Era um bonito porta-retrato.
Tão-somente um belo fundo para uma história acabada.
Não há porque expurga-lo daqui.
Só longe do meu quarto.
Um pouco distante de mim.
Mas lá. Era isso que ia dizer?
Talvez haja uma metáfora da sala de estar
Quis só afasta-lo do quarto, doutor.
Aqueles olhos olhavam minhas canalhices no meu mais íntimo local.
Foi lá que laçamos o instinto dos amantes nas máscaras de Shakespeare.
E bem representamos falas teatrais, omitindo a lascívia, única força a nos aproximar.
Afinal éramos dois pretensos apaixonados querendo viver um devaneio ideal.
Mas escondíamos de nós mesmos as nossas certezas, nossas cicatrizes.
Representamo-o, portanto, para apaziguar nossa consciência e curar nossas feridas
Tão esplêndida atuação, a fazer-nos afogar nos encantos de Baco.
E esquecemos serem mais etílicas do que sensatas aquelas promessas.
Egocêntricos não juram; beneficiam-se a enganar.
Típicas excentricidades da vida real jogaram água nos rostos hipócritas.
Elas são necessárias, doutor. O senhor não acha?
Essas peculiaridades abruptamente mataram o porre.
Deliciosa mundanices, porém vencíveis.
Chacoalham os fatos nosso eu.
A morte, a dor, o espelho perguntam-nos: es forte para enfrentar só?
Calamos e agimos. Não há forma diversa de ultrapassá-las, não é?
Mas ficam lá, como um câncer dormente
Questionando nossas verdades e bofeteando nosso caráter
Pensei que a solidão nos fazia tristes
Mas me desoriento pelo dever ético do altruísmo
Essa enxaqueca que insurge na gente
Esse dever íntimo do amar
Ferida de mim mesmo
Eu criei ilusões
Cortei a carne da razão
Idealizei um ser num dever ser
E quando vi não tinha nada
Só areia que escorria na ampulheta
O tempo passava e nada senão areia corrente
E eu criei algo sem concretude
Sou ferida de mim mesmo
Hoje a beira da morte
O que me resta senão alguns segundos
De exaltação pessoal
Por ter te feito tão bela alma
Pelos atributos imaginários que preguei
Com pregos apertados num fantoche de medo
Hoje a beira da morte
O que me resta senão algumas lembranças
De uma hipocrisia dolorida
Por ter te feito tão bela alma
Pelos atributos imaginários que preguei
Com pregos apertados do fantoche do medo
Um boneco de gaveta que não vive
Só existe, numa completa existência vã.
Sem poder de mandar, decidir, expressar-se.
Um boneco de gaveta esparso em idealizações morais!
Não há vida nessa falsidade.
Abrem-se na mente portas da revolta
E meu grito de desespero ecoa internamente como suspiro final
Milésimos de hora contados pelos olhares atentos
De quem quer vê-los extinguir-se em pó de cadáver
Mas como extinguir algo sem honorários de existência?
Não saí ao menos com perdas ou ganhos
A nulidade,o mais ou menos, o talvez é a pior das respostas frente a morte.
Enquanto o câncer dilacera vísceras cansadas de existir, sem saber viver
Eu penso que nem se lembrarão de alguém que nasce abortado de querer
Não há retratos guardados
Não se pode figurativizar o ser inanimado,
Um ser surrealmente imposto.
O que sobra quando não conseguimos encarar a vida?
O que resta quando a vida passa e não nos permitimos?
Lucros ou prejuízos! Quem dera...
Não sobra nada quando se é ferida de si mesmo.
Desajustes
Sorriso lânguido, olhar atônito, crepitações de maxilares frenéticos, quebra do silêncio mórbido!
Sussurros loucos que induzem ao êxtase antiético. Gritos que levam ao gemido de voz falha.
Luzes a piscar incessantemente. Arco-íris de desejos. O pote de ouro, a anfetamina dos sãos. Minutos são séculos de prazer intenso. Parar é perder eternidades de copos, drogas e flashes. Ela vibra com timbre das gargantas roucas, pula fora da sintonia musical. Segue a lógica do seu cérebro disléxico, ilógico. Talvez aqueles fossem os últimos minutos. Líquidos no sangue fluem. Overdose de fluidos. Mas quando suturas tempo-parientais se rompem, idéias se soltam, pensamentos escorrem e perde-se a coerência. Tempo? Resposta vazia que faz da lembrança uma ironia medíocre. Conceitos são imposições complexas e abstratas de uma sociedade de tais membros que querem viver a concretude de goles, de corpos. Olhos coesos talvez situassem o passado num virar de olhos na madrugada. Vissem que o futuro não é nada além de segundos previsíveis de novos balanços, cheiradas, frevos psicóticos. E o presente eram estruturas anatômicas mescladas e amorfas, perdidas num lapso de luz. Ela era parte do todo, perderá a individualidade em alguma seringa. Pulou, cheirou, gozou, bebeu e caiu. Foi pisoteada a noite inteira.
Primeira Novidade
A solidão que pede uma navalha... No limite entre vida e morte, grita por um último consolo, ainda que uma voz trêmula que a detenha, porque a sua própria voz se sufoca no pranto e na depressão! O silêncio mudo que sai da sua alma se mescla ao ruído quieto do quarto e o mundo e a sua própria existência tornam-se partes de um todo esperado e monótono. A solidão que pede uma navalha... A novidade de cada dia é só o aumento da angústia, a dimensão concreta da sua infelicidade de não ter mais chão, de sentir-se voando nos mesmos ares, ultrapassando as mesmas nuvens e vendo os mesmo rostos secos e apáticos na ânsia de uma linguagem fática, superficial e acaciana. A solidão que pede uma navalha... Um último vasculhar de gavetas cerebrais, nenhuma alegria recente, nada, senão papéis brancos jogados num canto de um lugar qualquer. Nenhum amor, nenhuma esperança, ações em vão... Será que alguém notaria sua ausência? Não tinha filhos, não se relacionava com parentes próximos, nenhum parceiro da mesma desgraça... A solidão que pede uma navalha... Corte, Sangue e a Primeira Novidade!
Humanidades
Crer que o mundo é algo palpável é uma maturidade egoísta. Sentimentos morrem e nascem sem ao menos serem experimentados por todos. Quando pensamentos convergem numa sintonia tão próxima sem, no entanto, tocar-se já é o limite. Nada é tão perfeito. Almas-gêmeas são uma estúpida denominação escassa de uma teoria esparsa. A apatia excêntrica cria vendas que transformam o mundo em algo sarcasticamente esplendoroso. A poeira que fica em baixo do tapete cria raízes e mostra que a casa inteira está podre. A ignorância nefasta da humanidade ofusca a hipocrisia (e cega olhos ainda coerentes!) ao relevar os fatos a meras opiniões inocentes. Tão convincentemente uma verdade criada é estimada em algo concretamente real. A descoberta do obsoleto mostra que a humanidade não inventa mais nada. Surpreende-se com a inteligência que homens despretensiosos ousaram ter e assusta-se que a ambição pelo poder não tenha sido o motor da criação. Assim a magnitude das coisas remanejadas é reduzida a “pó, a cinza, a nada”.E a humanidade caminha para o futuro enquanto a mente humana regride a irracionalidade.
Ao meu avô
Aqueles tristes olhos azuis.
Outrora risonhos e radiantes,
perdiam a cor, tornavam-se cinzas.
Viam o mundo em cinzas.
Cores tenebrosas.
Tons entre pretos e roxos gritantes.
Já tinham visto de tudo.
Viram guerras e confusões,
lutas por terras e revoluções.
Assistiram a entrada de Getúlio.
E a saída Getúlio.
Presenciaram a decadência do mundo.
Preferiram ter sido cegos algumas vezes.
Fecharam-se.
Aqueles olhos azuis desviavam-se da realidade.
Viviam, nos sonhos, outros mundos de magia.
Que este mundo não entendia,
Que este mundo não satisfazia.
Tudo de bom que os olhos guardavam.
Tudo de ruim da verdade esqueciam.
O sorriso do amor. Um grito de dor
A lembrança da criança que crescerá...Partirá.
Queriam mesmo ser cegos para algumas coisas.
E foram.
Estavam cansados de verem coisas repetidas.
Tinham esperança de mudar, mas...
Perderam-na.
Achavam que o país poderia mudar.
Achavam que o mundo ia mudar.
Pretensões!
Hoje, preferiam ver o mundo em preto e branco.
Repudiavam as cores da modernidade.
Adoravam se misturar com tecnologia.
Muitos avanços, máquinas, facilidades...
Hipocrisia.
Sendo assim, preferiam o mundo com as cores de Chaplin.
O mundo mudo que falava tudo sem palavras. Agia!
Aqueles tristes olhos azuis temem os jovens.
Acham-nos fúteis e descompromissados com a sabedoria.
Foram ingênuos; viam os guris de hoje tão sabidos, sem saberem nada.
Sabiam o que não precisavam saber.
Perdiam assim a curiosidade e a pureza que eles conservaram.
Eles sim foram jovens.
Na contrariedade de conseguir ter a óptica da sensatez dos homens sérios,
E por hora, a da ansiedade dos loucos imaturos.
Achavam na aparente divergência, um ponto comum.
Os conceitos, não se opunham, se somavam tornando tudo mais complexo,
E talvez menos unilateral.
Sabiam o que queriam e lutavam, até cansarem.
Aos poucos a visão tornou-se embaçada e confusa.
Perderam os objetivos. Ver o progresso? Fantasioso regresso.
Será que mesmo velhos enxergavam?
Eles que estão cegos e os olhos desmotivados!
Aqueles olhos azuis fecharam-se lentamente...
Voltaram a ver a vida sob cores coloridas.
Adolescência
Surra no rosto.
O gosto de sangue.
A instantânea vontade de ir...
Flashes da infância
A ânsia de medo.
A dolorosa escolha de ir...
Uma trouxa de roupas amassada.
Alguns pertences não meus.
Vinténs da última mesada.
E aquele último adeus.
Soluços, gritos, raiva e dor.
O barulho da maçaneta.
A mágoa que parece findar o amor.
O olhar na foto da caderneta.
Partir... para depois voltar
Suicídio Coletivo
De repente, descobrimos que o mundo não é como falam, mas sim como fazem.
Os nossos pais não são heróis, são psicólogos hipócritas da lei “do façam o que eu digo...”
Enquanto você foi ensinado a se importar com os outros, os outros vivem narcizando o seu próprio umbigo e eu e você crescemos com a ética e a moral injetadas no cérebro. Uma memória de regras pulsante na mente que grita ao mais eminente sinal de contradição às leis básicas da sociedade.
Aí ...você cresce, amadurece e descobre o mundo.
Surge a contradição gritante entre o ser e o querer. Combate entre o que você pensa e o que pensam de você. As suas crenças de infância contrariam a liberdade explosiva da adolescência. A curiosidade conflita com o conceito de decência. As suas vontades têm que ser deixadas de lado porque não fazem parte do que a sua família espera de você. Seus desejos têm que ser calados porque não é o que a religião te ensinou a crer. A sua vida tem que ser adaptada ao modelo do que a humanidade quer ver... Vejam uma vida de aparências, com um corpo explosivo de medos, verdades, vontades, anseios... Booom explode uma lágrima, uma navalha corta o pulso... No sangue escorre sentimentos calados pelos co-autores da morte, membros de uma sociedade hipócrita!
Cubismo
Na aliteração da boca boba,
Vem um anacoluto de dor
Porque a ironia do riso antitético é mais...
...que o antônimo do amor.
Na profundeza do coração tísico
Pulsa-se o O2 que vem de fora
E fora... o mundo corre saudável
Para políticos e para quem da vida vai embora.
No cubismo frenético
De uma quebra antiética
Contra o moralismo banal
Eu escolho a imagem a esmo
Pilha
Bunda
Choque
E vem um desejo... Clímax “chexual”
Come palavra
Digere e peida pontos
Porque a gramática é a regra descabida para calar a boca do povo
Porque o verdadeiro falar, não têm vírgula...
(Fecha a boca conservador fedorento)
DeIxA a IdÉiA fLuIr....
Partida
Sai da cama ainda quente,
Sem deixar-lhe uma rosa,
Sem nenhum dedo de prosa
Apenas a observar teu corpo nu.
Esqueci dos poemas,
Apaguei as promessas
E não mais me interessa o que há de pensar.
Só lembrei do prazer profano
E lamento o engano de dizer que te amei.
E se quiseres consolo
Nesse novo abandono
Procura por um outro alguém.
E quando acordar
Eu já vou estar muito longe daqui
Perceberá então a dor, que um dia, me fez descobrir.
Eu sinto... Amor, mas agora sou eu que preciso partir.
O ser si
No silêncio da noite que consome as forças e retira tudo da mais suave alegria.
Um olhar ao infinito é a covarde solução para a esperança que morre no peito.
A dor de uma angústia insensata adentra o íntimo do ser e mata as boas lembranças.
Surge uma voz que reacende o brilho que sucumbia num grito de contável vida.
Quando tudo se restringe a uma óptica imatura.
A maturidade de outrem me retira a venda.
E o mundo assume novas cores, outros rumos.
Possibilidades abstratas e insólitas tornam-se concretamente reais.
Surge uma ligação que ao corpo transcende.
Almas laçadas por um mesmo desejo.
Ah a felicidade...
Além de julgamentos e alheias vontades.
Sinto-me livre para tornar o detalhe um ganho.
E deixar a minha dor revirar-se em lágrima de vitória.
As conquistas tornar-se-ão um mero rascunho de modéstia.
Enquanto os erros uma demonstração divina da inferioridade do ser.
A solenidade de apenas... poder ser eu mesma
A amplitude de bastar... ser eu mesma.
Um olhar ao infinito é a covarde solução para a esperança que morre no peito.
A dor de uma angústia insensata adentra o íntimo do ser e mata as boas lembranças.
Surge uma voz que reacende o brilho que sucumbia num grito de contável vida.
Quando tudo se restringe a uma óptica imatura.
A maturidade de outrem me retira a venda.
E o mundo assume novas cores, outros rumos.
Possibilidades abstratas e insólitas tornam-se concretamente reais.
Surge uma ligação que ao corpo transcende.
Almas laçadas por um mesmo desejo.
Ah a felicidade...
Além de julgamentos e alheias vontades.
Sinto-me livre para tornar o detalhe um ganho.
E deixar a minha dor revirar-se em lágrima de vitória.
As conquistas tornar-se-ão um mero rascunho de modéstia.
Enquanto os erros uma demonstração divina da inferioridade do ser.
A solenidade de apenas... poder ser eu mesma
A amplitude de bastar... ser eu mesma.
Futuro da Nação
Já cansei de ouvir que sou o futuro da nação se a própria nação espera sentada pela criação de uma revolução que vá mudar o mundo. Eu sozinho não posso conscientizar uma cambada de cretinos engravatados que o dinheiro não é a solução para todos os males que afligem a nossa sociedade.
Se eu for chegar e dizer do nada:
“Ai Doutor, se liga na parada: teu dinheiro não pode pagar a minha opinião. Tô ligado nessa onda de corrupção...”
Ele vai me dizer
“Se você pensa no futuro e anda meio duro aqui está pra você algum tostão”. Tudo resolvido!
Eu sozinho não posso explicar que os direitos e as individualidades deveriam ser respeitados, e não só impostos para mentes escassas de água, comida, opiniões sensatas, mas impregnadas de idéias um tanto quanto abstratas, que nem ao menos delineiam a dimensão da imposição.
Eu sozinho não posso me levantar diante das grandes potências e fazer um gesto de reverência, pois não sou hipócrita como vocês que vêem seu país esperando por um trocado, jogado no lixo pelo rico norte-americano burguês.
Eu sozinho não posso levantar a bandeira branca pelo fim da guerra,
Não posso limpar as ruas, replantar todas as árvores e reconstruir este mundo cruel Com peças de um inocente quebra cabeça infantil.
Eu sozinho não vou conseguir convencer os meus filhos que o país vai mudar, já que eu mesmo não acredito nisso. E quando eles me perguntarem simplesmente serei omisso? Ou colocarei diante dos olhos deles a sua venda de hipocrisia? Ou quem sabe idealizarei um mundo de fantasia? Não, não vou mentir como os meus pais fizeram.
Como puderam dizer que tudo era questão de tempo... alguns anos...?
Estou há décadas esperando e nenhuma palha se move, só ouço o barulho das moedas tintilhando nos bolsos dos políticos! E o meu vazio, só ouve o ronco do meu estômago faminto.
Eu sozinho não posso ajoelhar-me diante do milho para pagar os seus pecados, não posso impedir que aquele menor abandonado que fuma seu baseado entenda a complexidade do narcotráfico.
Eu sozinho não posso me arrepender pelo que vocês fizeram antes mesmo de eu nascer. É muito fácil fazer minhas costas pesarem carregando um monte de insensatez e logo que as coisas dão errado me apontar como culpado pelos erros seus.
Então se vocês querem mesmo mudar o país, levantemos todos nós, pintemos as caras de verde, amarelo, rostos enrugados ou lisos, todos nós... FUTUROS DA NAÇÃO
Objetos e Morte
Labirinto de estilhaço
Pedaço, espaço, necessitam ocupação
Pegadas no caminho
Marcadas, traçadas, indefinida direção
Dores e ausência
Demência, clemência descenderam a criação
Para acabar com essa vida
Perdida, sofrida, saída é o sangue
escorrido
no chão
Ordem e Progresso
Massacra sociedade vil e desumana
O viciado perdido
O mendigo traído
A madalena sem escolha
Julgastes, condenastes os erros cometidos por tais fulanos e cicranos.
Filhos de uma nação imensa
Sem assumir os erros que cometestes em baixo dos panos
Nesta hipocrisia calada e intensa
Não... não é fácil encarar o espelho de frente
O retrato refletido de uma multidão ausente
aos problemas da cria que espera
a reposta certa, porém tardia da fé que ainda lhes sobra
E nos olhos dos adolescentes
Vê-se esperança
Com a vontade fremente
De serem a mudança
Aos poucos a crueldade cansa os olhos, cansa a alma.
O grito de revolução se cala
A força antes emergente acalma,
Cessa...
E esperando uns aos outros
Clamamos por um futuro digno
Sem busca-lo, tentando alguns poucos
Fazer valer insignificantes signos
ORDEM E PROGRESSO
Girassol
Existiu o girassol
No meio daquele lamaçal
Não era tão brilhante
Nem tampouco mais vibrante que os outros
Mas reinava... Soberbo!
Trazia conflito, pois existem contradições evidentes
Entre dois ecossistemas distintos.
Mas o fato é que fazia daquele cantinho apagado
Um prisma de luz vivo
Outros vinham, nasciam próximos
Tentavam abalar seu esplendor
Mas não havia permissão divina
Para retirar meus olhos daquele varão ínfimo, mas tão meu!
Que tinhoso!
Reafirmava-se com tal segurança e destreza
Que sua singela e manca existência
Ostentava status de mãe-natureza.
Olha lá seu moço...
Quantos outros enormes, amarelíssimos...
E esse a me fazer preso, na minha liberdade de ver.
Tentei olhar as marias-sem-vergonha
Até cravos olhei a bem dizer
A vista ao horizonte, porém, afunilava-se
naquela fonte de questionamento metafísico
O que fazia uma flor alegre no lodo da melancolia?
Aprendi a admira-lo de tal sorte
Que toda a morte do manguezal ressuscitou
E eu na minha impotente ignorância
Incumbi-me da arrogância de retira-lo dali
E lá naquele meu vaso caro e entendiante
O girassol sucumbiu pra mim.
E
NA NOITE DE ÊXTASE
ROUPAS NOVAS E COLORIDAS
E OLHARES PRETO E BRANCO
ME MISTUREI ÀS LUZES GIRATÓRIAS
E EMBALEI MEU CORPO NA CADÊNCIA DE UM RITMO QUE SÓ EU SENTIA
O MUNDO TODO PARECIA CABER NO MEU CORPO
ENQUANTO TODOS ESTAVAM FORA DE TOM
NA MESMA BATIDA PATÉTICA
ME ACABEI EM LUZES E CORES
IMAGENS DE PESSOAS CONHECIDAS
MEU CÉREBRO ISOLADO DO MUNDO TEM SEU DIA DE INDEPENDÊNCIA
Eu Vi O Mundo Girar Ao Redor Do Corpo Me Cobrando Por Respostas
Que Eu Não Tinha E Nem Queria Ter
Eu Vi O Mundo Girar Ao Redor Do Meu Corpo Me Dando Respostas
Que Não Eram As Minhas E Nem Queria Que Fossem
na noite de melancolia
roupas sujas e fedidas
e olhares cansados do êxtase
me misturei ao breu do meu quarto
e embalei meu corpo no ritmo do cansaço de qualquer ser humano que dorme
meu corpo parecia não caber no mundo
enquanto ninguém sabia estar dentro do tom
na mesma melodia horrenda
me acabei no escuro e no preto
flashes de rostos desfigurados
meu cérebro pesando sob meu corpo tem seu dia de escravidão
e vI meU corpO giraR aO redoR dO mundO mE cobrandO poR respostaS
quE eU nãO tinhA e neM queriA teR
e vI meU corpO giraR aO redoR dO mundO mE dandO respostaS
quE nãO eraM aS minhaS e neM queriA quE fosseM
NOITE DE ÊXTASE FOI AQUELA!
noite sem êxtase foi esta!
Mulher do Morro
A moça do morro desce
Tocando panela
Mexendo as canelas
Só pra ele ver
Só pra ele ver
O dono do morro sobe
E dá sacode
Em quem não pode
Com ela mexer
Com ela mexer
[Mas ela vem formosa
Com seu shortinho rosa
No seu top manero
E seu corpo moreno]
E ele só fitando
De longe sussurrando
Com essa mulher no morro
Deus, te peço socorro
PÁRA DE ME PROVACAR, MULHER
SE VOCÊ NÃO ME QUER
POR QUE ME FAZ SOFRER?
PÁRA DE ME PROCURAR, MORENA
PORQUE DESSA MANEIRA
VOCÊ ME FAZ QUERER!
Mas ele olha para o lado
E vê que com a cor do pecado
Ela atrai a atenção
Dele e de mais um batalhão
Mas se logo não tomar atitude
Não vai ter mais saúde
Para agüentar esse tanto de mulher
Mas se logo não tomar atitude
Acaba a sua juventude
Ela passa ele pra trás
Vai ter que encarar o velho conhecido
Mas que não é de muitos amigos
Para poder ter chance
PÁRA DE ME PROVACAR, MULHER
SE VOCÊ NÃO ME QUER
PORQUE ME FAZ SOFRER
PÁRA DE ME PROCURAR, MORENA
PORQUE DESSA MANEIRA
VOCÊ ME FAZ QUERER
Mas meu senhor, o corpo é fraco
O sangue é quem quente
Filha da gente, eu sei como é
Mas presta atenção, doutor, quero algo sério
Porque de adultério
Eu só tenho desilusão
Não traio mulher que amo
Porque se me engano
Não tem mais chance
Mulher desiludida
Não tem desculpa, não tem saída
A não ser saudade
PÁRA DE ME PROVACAR, MULHER
SE VOCÊ NÃO ME QUER
PORQUE ME FAZ SOFRER
PÁRA DE ME PROCURAR, MORENA
PORQUE DESSA MANEIRA
VOCÊ ME FAZ QUERER
Prometo casa, comida e alguns trocados
Rico não sou, mas sou abençoado
Te ter palavra e não ser ladrão
Aqui tá cheio de moribundo
De menino que o mundo
Não deu instrução
Sou homem de família
E se sua filha não for bem guiada
Vai acabar de mão em mão
Desculpa a direteza
Mas tenha certeza que sou homem sincero
E abro com o seu meu coração
PÁRA DE ME PROVACAR, MULHER
SE VOCÊ NÃO ME QUER
PORQUE ME FAZ SOFRER
PÁRA DE ME PROCURAR, MORENA
PORQUE DESSA MANEIRA
VOCÊ ME FAZ QUERER
Silêncio
Refugiei-me no meu mundo para falar de amor
Mas não havia amor
Pensei se seriam também hipócritas alguns poetas...
Mas quem não amou não saberia reconhecer a hipocrisia dos que fingem
Talvez houvesse amor então...
Se eu soubesse reconhecer um poeta fingidor amaria?
E lá eu sabia?
Não havia amor enfim
É tudo que temos para hoje
Nem uma grama desse fardo
Não havia amor para mim...
Talvez uma dúzia de bananas, um pacote de café
Mas amor? Não se fabrica mais nesse peito gelado
E quer saber? Não havia mais graça também
Nem me fazia diferença.
Só para divagar como os poetas fracos de sustância?
Não me seria defeso fingir que existia
Tampouco que houvesse eu gostaria.
Não havia e pronto. Assunto encerrado
Nós gostamos de nos refugiar
Para futucar a alma
E de pensarmos tanto criamos algo
Intitulamos amor
Mas talvez sejam gases
Alimentamos um avião de papel
Com turbinas de aço
E damos força para um vôo ridículo
Sobe um palmo do chão
E, uma légua em sonhos
Chega! Os pensamentos anteriores eram mais interessantes
Mas não conseguia lembrá-los
Só sabia que quando pensei neles eram interessantes...
Fiquemos na digressão do amor
Uma angustia adentrou meu cérebro
A cegueira de pensamentos sobreveio novamente
Se meu cérebro permitiu a angústia
Por que impedia formas, imagens e lembranças, mas dava espaço para divagar sobre o amor?
Silêncio
Chacaça
É para tapar o espaço do silêncio
que azulado coloria os cantos vazios daquele cubículo
(Teria cor o silêncio? Ele me parecia azul...)
É ainda para encobrir os espasmos de amnésia
que cinzenta descoloria os cantos cheios daquele meu cérebro
(Cinzenta por pensar em massa cefálica Não haveria de ser outra cor de fato)
Aquilo me encheu de agonia e eu calava
Quando precisava falar para não esquecer
No íntimo quase-vivem pensamentos calados, contínuos e rápidos
Ao falar exteriorizamos e então focamos em um
Este passa a viver É uma fecundação
Rápido escreva rápido
Meus pensamentos geralmente perduram
Naquele momento esvairavam-se, entretanto
Subiam junto com o ar branco cacheado ao céu
E Ele também era motivo dos pensamentos transeuntes
Mas eu não o amava. Nem voltemos nessa chatice
E não queira nem achar depois de anos e interpretações de sábios chatos
Que eu mascarava o sentimento nessas “palavras angustiadas”
Se eu amasse falaria Não sou de meias frases.
Se não são sensações, claramente são gases.
Objetividade e Neutralidade
A alma de um bom discurso.
Aprendi com Bobbio. Quimera
Só ao lado Dele eram nômades as idéias
Não por romantismo.
Mas sim por falta dele: ele não permitia a ninguém mais falar
Era o jeito próprio de Hamlet
Falarem a ele era dar margem a mais problemas
Que ele já tinha de sobra
Ou talvez nem tivesse de pronto
Mas passavam a existir porque na sua cabeça aflita
Eram sementes do mal que na insegurança germinavam
As preocupações despontavam como os sinais da puberdade
E ele ouvia as minhas sinapses, pois adentra a falar de sua infância!
A bem dizer falar para ele também nem se queria
Ele sozinho chegava a conclusões tão satisfatórias
Pois o seu egocentrismo lhe permitia viver epifanias ao ouvir suas meras interjeições
Então eu preferia pensar no azul dilacerando os cantos
Talvez diminuísse minha agonia e me fizesse relembrar o passado
O azul também é a cor do meu passado. Certamente. Um passado azul é necessariamente feliz. Mas tem um quê de monótono e triste. Eu via uma luz no horizonte e fingia compreender os dramas do meu Hamlet
Eu escrevia rápido para não esquecer
Em um tempo verbal já futuro
Mas o drama dos angustiados é presente
E também futuro, porque persiste
Um gênio!
Uma divagação ilógica me dá certeza que o tempo verbal estava correto
Gostaria de ter sido um gênio desde cedo
Para defender teoremas infundados nas provas de matemática
E fazer crer por artimanha da linguagem que havia fundamentos
Mas a matemática é a ciência dos que não amam
Nenhuma explanação por mais ousada é capaz de modificá-la
Tal qual nas ciências humanas
Em que um bom autor transmuta o crido em chacota
A professora burra não entenderia
Deixemos de lado toda essa balela!
Humberto Eco disse em voz de outro
Serem os loucos os estúpidos ingênuos
Agora faz-se o sentido dessa insesatez
E isto me fez lembrar que há paradigmas de nós mesmos
Nós Viemos aqui de máscaras no corrpo
E se você acha que isto deve ser suficiente
Você é o mias completo ignorante
Volúpia
Toda epifania é uma tentativa em êxito de calar uma interrogação de bar
?!
Uma volúpia desconcertante pede retorno
Clama por alumbramento
Que dê sentido a elucubração vazia,
Torne-a consagração interior.
Pregam a vazão do espírito, despretensiosamente
Com ar de sabedoria de bairro
Alguns poucos falsos ignorantes incrédulos fingem saber mais
Então, transgride-se em verdade a inutilidade dos que nada sabem
Mas CRÊEM
Aquele ponto de latência
Que antes apenas incomodava as mentes cediças por dor
Como a fisgada de dente alheia em boca nossa agora choram
Mas da pergunta insurge a resposta
E o desconforto retorce-se do avesso
Vira epifania presa
Ansiosa por filosofias complexas
Encadeamento de razões dispersas
Na subjetividade de pensadores calados pela terra
E inquietos pela imortalidade
Premissas e teoremas,
Tentativas em êxito
De calar uma interrogação etílica
Com uso da alteridade descontínua
Quebrada e reconstruída pela ansiedade da descoberta pessoal
Eu e outro gauche, na minha psicologia terapêutica de ébrio!
Estás aí?
Sábios bêbados,
Triunfos da eloqüência reveladora
Do pueril pensamento transitável
Na reflexão intransigentemente coerente
Humanitismo insensato superficialmente frágil
Não encontra respaldo combativo
Na lógica coesa dos cientificismos
Apenas abalos sem quebras definitivas
Burrice alcoolizada
Inteligentemente metástica
Câncer da pergunta muda
?
??
????
.....................................................................
A prática da civilidade social
É Impenetrável aos socialismos,
Baratas utopias na mente capitalista
E o oxímoro humano mais brutal
Unido à apatia da revolução nulificada
Torna tudo paisagem de Sanzio
Enquanto morrem Picassos nas almas sensíveis
Qualquer teoria prévia vira platonismo
Ou alucinação surrealista,
Quando os valores se invertem
A introspecção é a causa do inteligível?
O inteligível, razão da introspecção?
Há outras coisas com que se preocupar
A fora da porta não há espaço aos estóicos
Tampem os ouvidos a todos os discípulos de transgressões
Se estômagos cheios se fecham a raciocínios
O que dirão bocas vazias?
Não há aceitação de retórica dadaísta
Quando os pratos não se vêem abastados
Tal qual os bolsos das eficácias maturas da politicagem
“Mundo, eterno retorno do mesmo...”
Barbárie medieval
Acrescida de acumulação material
...Bomba atômica
Explode a crítica
Deixa em estado de plasma corações,
Rochosos corações solidificados
$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$
Retira do ser o fluido pensante
Capaz de fazer aquelas baratas utopias
Que só nutrem mentes doloridas!
Aos sãos a cura é a complacência
A apatia da não filosofia
Valor universal, o tátil
Unanimidade, a guerra
Vale a troca?
Sabe-se lá em Pasárgada
Aqui, perto do estéril turbilhão da rua
Abarrotada de dor de homem sem emplasto machadiano
Não há implícitos em materialidades
Nem entendimento em superficialidades
Há apenas perguntas sem mais êxtase de revelação
??
Crônica: Viagem
No fim do viaduto há um barão do café espiando a lunática das Maravilhas a soluçar um coelho. Dá até poesia. To inspirada. Mas qual é a poesia do nada? Fez sentido quando falei, mas já não faz mais! O que foi mesmo? São essas minhas ponderações. Nada a dizer dos miúdos cidadãos que são da América do Sul. Ó lá de novo, seu louco. Curtiu? Repete aí que eu não se mais. Mas foi legal, não foi? Estou longe e há a neve por todos os lados. Fala uma também. Qualquer coisa é poesia. Hoje em dia tem biografia de otário. Aliás só otário az biografa, porque se ele não for otário, alguém faz pra ele. Aí nem é biografia, é? Só porque o cara é insubstituível. Alguém deve achar que ele é memorável e fazer, né? Se não ele é um metido que acha que alguém dá um cu pra vida dele. Você faria a biografia de quem? Biograia de morto é mais legal. Puts que pesado aquele cara que morreu atropelado. Imagina a dor dele, meu? Pesado! Falaram que morreu no caminho, mas que gemeu o tempo todo. Como que o cara tem força para gemer e não tem para morrer? Entrei em uma vibração pesada. Não era essa a vibe inicial. O que é vibe? O que é status quo? Nunca tive coragem de perguntar. A gente fala tanto! Não não fala não. Veio agora. Achei que falasse uito, mas nem... Loucura. Não quero mais isso. Ah mais agora vem um bom. Pipa, pião. Estou vendo você, mas sei que é fruto da minha imaginação. Já fostes tu, ao encontro das nuvens ou das trevas, que sei eu das suas condutas mundanas. Será que a Madre Thereza tinha fantasias sexuais? Ahhhhhhhhhhhhhhhh é a sensação. Concretização do amor em fluidos corpóreos. Que lástima fétida e escrota. Comparar o amor ao líquido das linfas? Onde está você, mocinho? Vi você há 2 minutos aqui. Dois minutos. Ou Dez? Quantos minutos têm uma hora? Certa resposta, ainda lúcida. Lembra do Gugu Liberato? Boa, superego! Ah cerebelo no meu corpo? Nessa altura deveria eu saber a função do cerebelo? Que caxias! É eu não sei o que é caxias. Mas sei porque foi mal aplicado. Ai onde vou? E você mocinho? Você esteve ausente por... Que horas são em? O que eu estava procurando? Ah, o relógio! Tic Tac Tic Tac Tic Tic Tic é mais sonoro que o Tac. É só mais legal! Tac Tac Tac também tem sua graça. Quando você pergunta ara alguém o nome tem outro jeito, não tem? Como é mesmo? A frase foi tão longa que eu esqueci Havia falado a palavra! O que eu estava pensando mesmo? Dá para a gente esquecer o que estava pensando? Acho que dá né? Eu acabei de fazer. Hahahaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahahahahahahasshahahahahahahahahahaha Pára de rir. Ah sou eu né? Hahahahaaaaaaaaaaaaaaaaahahahahahhhahahahahahahahahahah. Já bateu né? Bateu bateu, vamos dançar? Vc sabe cantar tango? Se canta tango ou só se az aqueles gestos? Ai tango é tão triste! É romântico. Eu queria um namorado. Ou sexo só? Eu aqueria um brigadeiro? Namorado e brigadeiro. Acho que são parecidos. Mesmos fins. Mas não sou eu que como! Ou sou? Dizem que no sentido literal é a mulher! E gays? Um show de gastronomia. Ai que idiota. Mas vc ri disso? Ah vamos então ver alguma comédia na tv! Nossa vida é uma comédia. Triste comédia. Falam que quando dá nóia é foda. Sai da nóia sai da nóia. Não bate gostoso. Bate duro. Machuca. Você viu esse corte no meu joelho? É sangue isso aqui? Lambe! Eu quero provar. Vem de mim mesmo. Cocô também. Ai eu to sentindo o gosto! Eca podia ser cocô nessa vibe. E se eu comesse cocô ia ser engraçado! Você ia contar para alguém. Eu como cocô, nesse sentido tosco. A gente na fala brincando? Entendeu o lance? A deixa pra lá. Você não entende nada nesse seu estado! Eu to bem. Para não bateu nada. Você que é louco, meu. Passa o lanche do Mac? Pode ser também essa amandita. Lambra daquele chocolate aerado? É a pipoca do saquinho rosa? Era ruim, mas gostosa. Lembrei do meu vinil do Balão Mágico! Uma virou doida né? Mas quem não é? Ah muita gente, mas não sou parâmetro. Olha a gente. Achei que ia ser doutora. Mas até sou para muitos! Doutora! Que bela bosta! Ninguém sabe dessas coisas. Todos esses caras têm suas burrices. Aliás, todos nós né cara? Passou acho? Ta voltando a vida chata. Pega mais um?
Inexplicável fissura
Enquanto não me ver aqui não saio da frente.
Sou insistente e tenho algo a relatar.
Eu amei você e tanto.
Que qualquer santo já sabe ditar
Que qualquer santo já sabe ditar
Recitam eles até de trás pra frente
Cada repente das minhas orações de ninar
Foram tão intensos os clamores
Que os mais sábios doutores tentaram tratar
Naquelas noites de sono
Me doía o abandono e a incapacidade de poder sequer sonhar
Tripudiava comigo o dia
Ao nascer com alegria em contraste a minha escuridão
Quantas vezes chorei no divã, ao visitar o mais alto clã da medicina psiquiátrica,
Das ervas fitoterápicas, sei catalogar até as espécies mais nobres
E pobres dos psicólogos que tentaram os benditos florais de Bah
Para impressionar nem precisa dessa melancólica quizumba?
É só dizer que nem macumba foi capaz de sanar
Tomei todas as nossas taças do velho cowboy
Tirei as traças das fotos só para ver de perto você
O playboy carioca e a falsa dondoca
Só podia dar certo em comercial de tv.
Analisei cada pormenor
Mas acho que sei de cor as formas e cores mescladas na tinta
Fato é que não há conclui por alguma efetiva diferença
Que uma reles masculina presença já não tivesse trazido pra mim
Minha luta está longe do teu entender
De fato não compete a mim explicar as artes do meu proceder
Confesso que não consigo aceitar a sua ausência de futuro
Minha vida não me permite atirar no escuro, como você pode fazer.
Não é só seriedade em excesso
Qualquer passo em falso para mim é regresso
Gostaria que pudesse compreender
Mas se para você a incerteza é aventura
Se meta nessa sua loucura com alguma real baronesa
A plebe agradece a solidão da batalha.
Inexplicável fissura
Que encheu de amargura as gotas daquele saboroso cowboy
Indecifrável burrice
Que regrediu a minha tão custosa expertise aos seus efêmeros anseios de sábado à noite.
A carência e a segurança ou se completam ou se corrompem
Irrompem-se revoltas privadas quando não se enxerga a luta interior
E há de fato tão imponente batalha travada contra si mesmo
Elas não se bastam. A omissão dá eloqüente fervor as discussões infindáveis
Apontam-se erros esquecidos e fraquezas há tanto caladas
Travertem-se em apatia sentidos e certezas há pouco formadas
Contidas se tornam as palavras de amor
Temem a irreciprocidade e a auto-exposição
Colocam-se no vazio da insegurança os carinhos
E o fato de só haver lembrança de bons momentos dói
No alvedrio se insere a comodidade
E a saudade de nós é só uma faceta do esquecer a si mesmo
Deixa-se de lado o dizer
Deixa-se de lado você
Minha carreira ficou de lado, tal qual o meu eu
O trocaria por um inventado recado de que gostava de mim
Me satisfaziam balbucias inexatas
Bastava que entendesse nas entrelinhas das suas dificuldades de expressar-se
Já que não houve terapia
Já que esquecer os momentos já é utopia
Eu vim aqui pra te ver
Passe bem com seus amores
Essas são as contas dos doutores que você tem que pagar
Eu quero meu travesseiro de volta
Conserta o batente da porta que você mesmo fez ceder
Naqueles devaneios de insanidade
E também, a bem da verdade, naquelas horas de prazer
Nem quero lembrar dos sussurros pudendos
E nem venha com podres lamentos
Não quero te ouvir
E se você vier com graça
Ou com esse tom de ameaça
Da sua máscara vou te despir
Dizer-lhe umas boas verdades
Umas tantas maldades que guardei no meu notável particular
Se encher muito a paciência
Vou revelar a falta de decência do seu jeito de agir
E no final desse teatro
Vou lhe dar o retrato que guardei de nós dois
Preciso gritar que te amo
E se ainda reclamo é porque não consegui te tirar daqui
Conserte o batente da porta, que deixarei aberta para você voltar
Devolva o meu travesseiro para que durmamos juntos no nosso altar
Brinquemos de decifrar na foto as cores mescladas em nós
Na cabeceira da cama quantas taças do doce cowboy lançadas ao azo do mais profundo prazer...
Não precisa dizer mais nada. Vivamos suas aventuras, que amanhã eu volto para o trabalho e você à sua vida de playboy.
Só mais um dia, não há de matar.
Mas ao ir embora, deixe pagas as contas médicas do próximo mês. Acho que eu vou precisar...
A Alguém que Amei
Qualquer loucura de amor com você vira exposição ao ridículo
Todo carinho vira submissão
O menor cortejo apaixonado faz-lhe rir em apelo a breguice
Você desenha em prol da sua necessária auto-afirmação
Não há nenhum romantismo aí dentro?
Não pode me fazer sentir mais bonita quando ponho aquele vestido?
Escolhi pensando em despertar algo em você, mas você nem se toca
Eu sei que devemos ter o ego alinhado
Independente de juras de amor
Mas somos humanos e a insegurança é parte de nós, não é?
O que há de errado em você?
O simples fato de ver um sorriso em mim não tira a sua preguiça?
Não satisfaz tão-só corresponder às minhas expirações?
Se não forem suas também não há graça...
Percebe o egoísmo de tuas ações?
E replica dizendo se esforçar
Mas percebe que isso só ocorre se trouxer um benefício a você
Será que sou errada de querer um chamego quando acordo de noite assustada?
É tão imprevisível a vontade de um cafuné nas noites de insônia?
Ações desprovidas de qualquer fim único
Atitudes de nós dois
Sei, não sou das mais fáceis...
Tem horas que crio começo no fim
Muitos momentos em que dou azo a minha insegurança
E faço o inferno por duvidar do meus planos
Mas amei você e como
Às vezes me pego pensando
Que talvez não fosse a hora
Que talvez possa haver um momento
Mas quanto de você ainda estará lá?
Mas quanto de nós ainda estará lá?
E se a maturidade tirar-lhe o belo, trazendo-lhe a descrença?
E se a maturidade não trouxer-lhe o que clamo?
Se a parte que amo em você for embora?
E se o que me afasta de você permanecer?
Eu aqui sou mais feliz? Pois não tenho o que me irrita em você
Mas parte de mim se sente vazia,
Pois me completava na metade de você que não sei onde está
E procurar de nada adianta, pois fizeram-se pré-conceitos imodificáveis.
Então vá embora... Se houver hora, saberemos.
Então vá embora... Se houver hora, saberemos.
Preferências
Nada me fascina mais do que um uísque com gelo
Nem um olhar de paixão me parece mais do que desespero
Não creio nessa demagogia que erige a bondade do ser humano
Para mim, todo discurso deslumbrado certo dia se dilui em engano
Em um copo de epifania vendida no balcão de um bar
Descobri que os engajados são idiotas, hipócritas ou idealistas
E hoje prefiro dois ébrios realistas
A um intelectual e suas utopias mortas
Dos bêbados e suas elucubrações tortas
há mais possibilidade de acerto
De fato, estive refletindo... A embriagues nada tem de torpeza
Irrompe-se da mais palpável sensatez, afasta a impossibilidade, dá azo à dúvida e, por fim, traz certeza
De que a vida é o mais patético teatro
Tragicômico como um colorido e reluzente retrato
Que se destina a presentiar um cego
E só se vive porque no fim da trilha escura há o emplasto que se almeja
Visa-se à luz que guia, mas nunca flameja
Anestesiados pela sofreguidão da apatia
Prosseguem vocês no fluxo de imutável sinergia
Barata aos dominadores e cara aos andarilhos do escuro
Em encontro às demais almas benevolentes
Vão os tolos descrentes
De que algum dia o mal os alcançará
Sem questionamento e sem razão
Sob impulso a um ente de nome Deus e alcunha submissão
Entregam seus bens e seu destino
Como pôde ver não há mais em mim esse ultraje romântico
Hoje, me lisonjeiam o ritmado e afinado cântico
Que insurge dos asilos, cárceres, ou manicômios
Percebi que neles certamente habitam menos demônios
Do que, em toda a sua podre individualidade
Suas palavras são seqüências de letras, sentença vazia
Dispense as frases feitas que denotam sua azia...
De pensar as paráfrases poéticas que ecoa ao vento
Sem sequer entender a verdade e o lamento
Do poeta que amou
Suas palavras são seqüências de letras, sentença vazia
Dispense as frases feitas que denotam sua azia de pensar
As paráfrases poéticas não escondem sua pobreza intelectual.
Portanto não me venha com esse discurso enjoado
Tente talvez algo um pouco menos elaborado.
Certamente é mais você.
Não se logre no espelho afastando da mentira a sentinela
O fim de história pode dizer-lhe pobre, mas fugirá de ilusória novela
Que você planejou nessa sua arte de inventar mentiras
E para findar com algo que faz o seu jazer mais jocoso
Em nome desse ente mítico a quem se agradece algo esplendoroso
(só porque crê-se oriundo dessa surreal divindade)
Agradeço a benção de pôr fim a essa inverdade
Com a qual você se tolheu ao chamar de Amor?
O poeta
Um soneto melódico para as tardes febris
Um boleto metódico de saldos sutis
O céu fecha em cinza, preto, cor de xadrez
Nenhum poema nesse mundo sobrevive as contas do mês
O poeta é pobre
O poeta é pobre
Pensei em empréstimo, cheque voador e penhora
Do fugir, do morrer jaz demora
Mas suicídio custa caro
Posso predatar o inventário?
Posso testamentar o crediário?
O poeta é pouco
O poeta é pouco
Posso sentir a moeda bater na pança
Que insensatez é essa que chamam de esperança?
Eu sinto fome. Isso eu conheço.
Eu sinto frio. Com suas palavras não me aqueço.
O poeta é potro
O poeta é potro
Podem falar que os versos são encantadores
De nada adianta seus falsos amores
São jóias que fazem delas mulheres mais belas
E se não tem essa panca pra bancar as donzelas
Contete-se com as moribundas
Elas fazem um caldo de galinha no frio
O poeta é podre
O poeta é podre
Cama Fria
Raia o dia e a cama já tá fria com saudades de você. Não sai da minha esta sensação vazia de quem acaba de perder. Foi-se embora o dono deste canto da cama. Fez-se longo o tempo de encanto desta trama. O desejo, a paixão e o casório. O cortejo, o caixão e o velório. Agora tudo é fim... Só há lembrança, lembrança, lembrança. Mais nada. Foi jogada na entrada da nossa casa que me postei, por horas. Como se você fosse surgir ali... Ri do primeiro encontro, quando lembrei que agora você é morto e não me fará mais sorrir. Agora despejo suas roupas em uma mala para a posteridade, e jogo metade de mim ali dentro junto daquele pouco de você. Aquela engraçada camisa tão decotada e a bermuda preta. E naquele incômodo pijama desbotado, achei sua caderneta... Naquele bolso que eu sempre dizia inútil. Devia ter dito que te amava a última das vezes. Eu lia cada trecho daquelas suas transcrições triviais como se poemas fossem. Eram doces reflexões sobre seu dia. O dia em que a cama ficou fria... (escrito no dia da postagem)
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